GUILHERME BOMBA

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Muda: transformação, de roupa e silêncio

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| Edição de 13 de novembro de 2025 | Atualizado em 13 de novembro de 2025

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Ela muda. De roupa, de casa, de sonho.

Muda o perfume, o número do telefone, o endereço dos afetos.

Muda o jeito de sorrir nas fotos, o filtro, o enquadramento.

Muda o tom da voz quando precisa parecer inteira, e o passo quando quer fugir de si.

Muda como quem planta: cava o chão, enterra o antigo, rega o incerto.

Brota outra, parecida, mas nunca igual.

As raízes ainda seguram a dor, mas a flor finge que não lembra.

Cada folha nova nasce com a lembrança do galho que apodreceu.

Muda também o olhar, aquele que já não brilha, só observa.

Muda por dentro o que ninguém vê, e por fora o que todos julgam.

Muda o amor, muda o medo, muda até a fé.

Muda porque cansou de carregar fantasmas com o nome dos vivos.

Mas há dias em que ela não muda: é muda.

Não diz, não grita, não pede.

A voz apodrece na garganta, a língua é uma ferida costurada por dentro.

As palavras se empilham no peito, formando um cemitério de tudo que quis dizer.

E o mundo, indiferente, diz: “como você mudou”.

Mas não percebe que é outra forma de calar.

Que toda mudança é um corpo deixado pra trás, e todo silêncio é um grito em surdina.

Ela muda, sim porque mudar é a única maneira de continuar respirando.

Mas o que morre e nasce dentro dela, ninguém escuta.

É ali, no espaço entre o que cala e o que se transforma, que ela aprende: mudar também é uma forma de morrer devagar, sem que ninguém perceba o enterro.

Então muda, ela muda a muda de lugar.