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Jogadores do Apucarana Sports já sofreram racismo como Vini Junior

Fernando Klein

| Edição de 25 de maio de 2023 | Atualizado em 25 de maio de 2023
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Os casos de racismo enfrentados pelo atacante do Real Madrid, Vinicius Junior, ganharam o mundo após o jogador brasileiro liderar nos últimos dias uma luta contra a discriminação nos campos de futebol. O preconceito flagrado na Espanha é comum também no Brasil. Jogadores negros e o treinador do time sub-20 do Apucarana Sports afirmam que o problema é recorrente e pedem um “basta” para essa conduta criminosa de muitos torcedores.

O tema voltou à pauta após a última partida do Real Madrid contra o Valencia, no domingo passado. Na oportunidade, torcedores do time da casa chamaram o jogador de “mono”, que é macaco em espanhol. Revoltado com os gritos racistas, o brasileiro acabou expulso após se envolver em uma briga.

Após a repercussão do caso, o atacante recebeu inúmeros gestos de solidariedade em todo mundo e a polícia espanhola chegou a prender sete suspeitos de racismo.

O volante do Apucarana Sports, Serginho Paulista, afirma que o racismo é um problema recorrente. “Já aconteceu diversas vezes (gritos racistas). É uma situação muito triste e tem que ser combatida”, afirma.

O atleta faz coro ao companheiro de profissão do Real Madrid, que reclamou que “hashtags” não comovem mais. “Muito já foi dito, muitas opiniões e muitas palavras ditas (contra o racismo), mas temos que ter atitudes e punir severamente (os racistas.). Há décadas estamos nesse mesmo assunto, mas não muda: as pessoas vão ficando cada vez mais à vontade em cometer esse delito. Tem que ter punição mesmo, algo severo”, defende o jogador.

Ele considera essencial a punição aos autores dos atos racistas. O jogador lembra que a legislação já prevê esse delito no Código Penal, mas também afirma que é importante que haja sanções contra os clubes, com perdas de mando de campo e de pontos, além de rebaixamento. Serginho Paulista lembra o caso do Grêmio, que foi eliminado da Copa do Brasil por causa de insultos de uma torcedora contra o goleiro Aranha, então no Santos, em 2014. “Assim, as pessoas vão estar cientes que podem, além de se prejudicar, também afetar toda uma entidade”, assinala.

O zagueiro Dipão também afirma que já foi alvo de racismo. Ele cita como exemplo um caso de quando jogava na Guatemala. Na oportunidade, ele foi chamado de “macaco” por um torcedor. A polícia foi chamada e o agressor identificado, mas não houve prisão.

“Enquanto não houver punição, as pessoas não vão mudar”, afirma Dipão. Segundo ele, é uma situação difícil vivida pelos jogadores negros no Brasil e em vários países do mundo. “Somos seres humanos, independente se é negro ou branco. Tem que ter respeito”, completa o atleta. (FERNANDO KLEIN)

Técnico condena preconceito: “É nojento”

Com quase 30 anos de carreira, o treinador Antônio Donisete dos Santos, o Toninho, do time sub-20 do Apucarana Sports, afirma que já sofreu muitas vezes preconceito de torcedores nos estádios e também fora dos campos de futebol. “É intolerante, no pleno século 21, a gente sofrer essas coisas”, afirma.

Ele aponta que o preconceito contra Vinicius Junior está relacionado ao sucesso do jogador. “Vini batalhou muito, veio da periferia, e alcançou o estrelato. Isso incomoda um pouco algumas pessoas brancas. É um negro, como a gente, que consegue alcançar um status alto”, assinala.

O treinador afirma que o preconceito é até maior fora dos estádios. “Já sofri (discriminação) em lojas e outros ambientes comerciais, onde a gente vai comprar e pagar, mas tem pessoas de pele clara que querem passar na frente, como se o negro tivesse que esperar, ou porque pensam que a gente não tem dinheiro para pagar”, diz.Segundo ele, o negro precisa sempre se sobressair e “mostrar todo dia que é capaz de frequentar os mesmos lugares” do que os brancos. “É algo nojento, me desculpe a palavra”, acrescenta o treinador.

Toninho elogia Vinicius Junior pela coragem. “Ele está se sobressaindo e esse caso vai deixá-lo ainda maior”, opina. Para o treinador, a repercussão precisa ser encarada como uma oportunidade para educar as crianças e adolescentes. “Tem que dar uma basta nisso para que nossos filhos e os outros que venham depois não tenham esse pensamento grotesco de divisão”, completa.