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Furto de cabos na malha férrea do Rio em 2024 supera 62 quilômetros

Léo Rodrigues - Repórter da Agência Brasil (via Agência Brasil)

| Edição de 31 de dezembro de 2024 | Atualizado em 31 de dezembro de 2024
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Desde o início do ano, foram furtados mais de 62,78 quilômetros de cabos da Supervia, concessionária que opera a malha ferroviária urbana no estado do Rio de Janeiro. Os dados englobam o consolidado entre janeiro e novembro. Trata-se de uma queda de 26,2% em relação ao mesmo período de 2023, quando foi registrado o furto de 85,12 quilômetros.

Segundo a Supervia, empresa operadora de transporte ferroviário, o tipo de crime tem representado desafio para a segurança pública do Estado e para a concessionária há alguns anos. Em 2024, abril foi o mês em que se registrou a maior extensão de cabos furtados: 7,32 quilômetros. Já o menor foi outubro com 4,07 quilômetros.

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A concessionária considera que a redução observada em 2024 é influenciada por um conjunto de ações de segurança, entre elas a adoção de nanomarcadores, iniciativa implementada pela concessionária a partir deste ano. Trata-se de uma espécie de verniz aplicado em todos os cabos, de forma que eles possam ser identificados. A medida foi adotada com a expectativa de inibir a ação de criminosos.

"Com a solução, que é permanente, os técnicos conseguem saber no receptador ilegal se o cabo é ou não da concessionária. A tecnologia permite também saber a origem do fio, mesmo se o receptador queimá-lo ou raspá-lo, que são práticas comuns entre os criminosos", registra nota divulgada pela Supervia.

A concessionária cita ainda o aumento de número de agentes envolvidos no Programa de Integração de Segurança da Polícia Militar (Proeis). "Em média, há seis homens em cada estação e no 'cinturão' - estações próximas que também podem ser burladas". Mesmo com a queda, o cenário é motivo de preocupações para Supervia. "O furto de cabos ainda é um problema persistente que atrapalha a complexa operação dos trens da Região Metropolitana do Rio de Janeiro", diz a nota.

Procurada pela Agência Brasil, a Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que mantém policiamento no entorno das estações e atua em apoio a concessionária sempre que solicitada, além de trabalhar em parceria com as delegacias locais da Polícia Civil para identificação e prisão dos criminosos.

Segundo os dados apresentados, de janeiro a outubro desse ano, foram registradas 497 ocorrências, tendo sido presas 703 pessoas. Além disso, a Polícia Militar informa ter apreendido cerca de 34 toneladas de cabos.

Já a Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou em nota que investiga todos os casos registrados. "A Delegacia de Roubos e Furtos (DRF)  realiza ainda ações contínuas contra ferros-velhos irregulares que receptam esse tipo de material metálico furtado. Diligências estão em andamento para identificar e responsabilizar toda a cadeia criminosa", registra o texto.

Transição

Os trens urbanos do Rio de Janeiro transitam por uma malha que possui cerca de 270 quilômetros. São cinco ramais, três extensões e 104 estações. O furto de cabos é  apontado pela Supervia como um dos principais motivos para suas dificuldades financeiras e para problemas de qualidade na oferta do serviço. As frequentes paralisações nas viagens, bem como a superlotação de vagões, se tornaram realidade em meio à crise que se arrasta há alguns anos.

"O furto de cabos prejudica todo o planejamento e afeta os intervalos entre os trens, porque o comando para o maquinista seguir viagem passa a ser feito por rádio pela equipe de controladores que atuam no Centro de Controle Operacional (CCO), e não mais de forma automática. É como se os sinais de uma avenida tivessem apagado e o controle do trânsito passasse a ser feito por um guarda. Por isso, os trens passam a viajar de forma mais lenta, para garantir a segurança operacional e a vida de todos os colaboradores e clientes", afirma a concessionária.

A Supervia entrou em recuperação judicial em 2021 contabilizando prejuízos que chegam a R$ 1,2 bilhão. Na ocasião, ela sustentou que a situação decorria dos impactos da pandemia de covid-19, do congelamento de tarifas e de questões à segurança pública, sobretudo o furto de cabos. O governo estadual, de outro lado, considera insuficientes as explicações.

O consórcio Gumi, formado por empresas japonesas que atualmente controlam a Supervia, já ameaçou devolver a operação dos trens urbanos algumas vezes. Ao mesmo tempo, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes (Agetransp), autarquia ligada ao governo fluminense que fiscaliza concessões de transporte, tem aplicado multas à Supervia por descumprimento de contrato, inclusive por falta de investimentos previstos.

As partes conseguiram fazer um acordo, no final de novembro, visando a transição do serviço até a realização de nova licitação. A Supervia e o governo do Rio de Janeiro alinharam as bases de um processo que deve durar entre 6 e 9 meses.

Neste período, deverá ser feito um investimento de R$ 450 milhões, sendo R$ 300 milhões dos cofres do estado e R$ 150 milhões da concessionária. O acordo foi homologado  pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) no início desse mês.