Na era do fast fashion, onde tudo é trocado na rapidez de um clique, uma profissão voltada para garantir que itens permaneçam por mais tempo em uso e nos guarda-roupas permanece atual. É esse o ganha pão do sapateiro. A profissão, que atravessa séculos de história, sobrevive graças à dedicação de quem ama o que faz e à confiança dos clientes que continuam buscando o serviço que vem se tornando cada vez mais raro, até por falta de formação específica.
Roberto Simão, sapateiro há mais de 40 anos, em Apucarana, por exemplo, herdou a profissão do pai. “Comecei aos sete anos, ajudando meu pai no corte e costura dos sapatos. Aos 16, já montava e fazia calçados completos”, lembra Simão, que mantém a tradição familiar passada por gerações. Seu avô foi sapateiro, seu genro, que atualmente trabalha em uma sapataria próxima ao shopping, também aderiu ao negócio da família. Ele ainda menciona que seu irmão e cunhada, em Cascavel, também seguem no mesmo ofício.
A profissão enfrenta dificuldades. “Muitos clientes deixam seus calçados para conserto e não voltam para buscá-los. Acumulamos pares e, quando não temos mais como guardar, acabamos doando. Mas seguimos firmes”, relata Roberto. Ele calcula que, por conta desses abandonos, chega a trabalhar dois a três meses por ano sem receber pagamento. “Usamos nosso material, tempo e esforço, mas o prejuízo é inevitável”, acrescenta.
Para enfrentar os tempos modernos, Simão diversificou os serviços. Além de sapatos, ele conserta tênis, mochilas, bolsas, jaquetas de couro e realiza pinturas. “O perfil dos clientes mudou. Hoje, atendemos muitos esportistas que trazem chuteiras e tênis de academia, que se desgastam rapidamente”, comenta, destacando a importância dessa nova demanda.
Apesar dos obstáculos, Simão sente orgulho do seu ofício. “Aprendi com meu pai e sempre gostei desse trabalho. Vou continuar até o dia que Deus permitir”, afirma.
Nesta sexta-feira (25) foi comemorado o Dia do Sapateiro, que também remete aos santos Crispim e Crispiniano, padroeiros do ofício. Esses irmãos romanos do século 3, além de pregadores do cristianismo, eram sapateiros. Suas histórias refletem o valor do trabalho artesanal que muitos profissionais ainda mantêm vivo, apesar dos desafios impostos pela modernidade.