O Colégio Estadual Nilo Cairo, de Apucarana, foi ocupado ontem pela manhã por estudantes. A iniciativa, que ocorreu por volta das 5h30, integra movimento estadual encabeçado pela União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes). O objetivo das ocupações, que começaram na última semana, é protestar contra a reforma do ensino médio. Os estudantes querem que a medida provisória seja retirada de pauta. Até o final da tarde de ontem, cerca de 90 colégios, de 18 municípios paranaenses, eram ocupados por estudantes. A Secretaria de Educação (SEED) entrou com pedido de reintegração de posse. O pedido foi feito à Procuradoria Geral do Estado, que até o final da tarde de ontem não havia se manifestado.
Os alunos do Colégio Nilo Cairo, que é o maior de Apucarana, garantiram que não vão deixar o estabelecimento de ensino até que a proposta seja retirada de pauta pelo Ministério da Educação. “Nós não vamos para casa. Vamos permanecer aqui 24 horas”, afirma o estudante Bruno Gurgell, presidente do Grêmio Estudantil do Nilo Cairo. No local entra somente pessoas autorizadas pelos estudantes. No período da manhã, o Conselho Tutelar esteve presente junto com a Ouvidoria do Núcleo Regional de Educação (NRE). À tarde, o Ministério Público também visitou a unidade, que tem 1,7 mil alunos matriculados.
Na avaliação de Gurgell, a paralisação se faz necessária diante da proposta de reforma do ensino médio apresentada recentemente pelo Ministério da Educação. As principais queixas dos alunos são a ampliação da carga horária, de 800 para 1,4 mil horas anuais, mudança na grade de disciplinas obrigatórias e a não obrigatoriedade de diploma para professores, o que permite que a inclusão do “notório saber”. “O ensino médio precisa de uma reforma, mas deve ser feita a partir de discussões com alunos e professores, que são quem entendem de educação”, diz.
Gurgell comenta ainda que reforma educacional, da maneira que está, vai afastar ainda mais os estudantes do ensino médio. “Muitos alunos precisam trabalhar e, por isso, dividem o tempo entre a escola e o emprego. Se aumentar a carga horária, como esses alunos vão conseguir frequentar a escola?”, questiona.
O presidente do grêmio estudantil frisa ainda que a reforma da educação confronta com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que prevê o congelamento de gastos públicos por 20 anos. “Não tem como fazer as duas coisas”, diz. Por outro lado, ele garante que os alunos que participam da ocupação não estão fazendo algazarra. “Queremos um ensino de qualidade, por isso, é importante ter na grade disciplinas como Filosofia e Sociologia”, afirma.
No colégio, Gurgell comenta que os alunos foram divididos por grupos, sendo cada um responsável por um departamento, como segurança e limpeza. “Também estamos realizando aulões para o Enem e oficinas de artes”, argumenta.
A chefe do NRE, Maria Onide Sardinha, disse ontem que estava preocupada com a integridade dos alunos, apesar da organização dos estudantes. “São todos adolescentes”, afirma.
Richa fala em “doutrinação”
O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), afirmou que os jovens que ocupam escolas no Estado não sabem por que estão protestando. Segundo Richa, os estudantes são usados por movimentos sindicais. “Não vão intimidar. Sindicatos ligados à CUT e ao PT que querem a baderna no país usando, de forma criminosa, as nossas crianças nas escolas que estão nas ruas protestando não sabem nem o que. Numa perfeita doutrinação ideológica das escolas do Paraná e do Brasil. Aqui, talvez, com mais intensidade, pela agressividade dos sindicatos, afirmou o governador.
A chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE), Maria Onide Balan Sardinha, que participou de manhã de reunião com estudantes, garantiu que todas as reivindicações serão apresentadas na próxima quinta-feira durante reunião, que acontecerá da FAP. “Vamos ouvir dois alunos de cada colégio do NRE com ensino médio, além dos pais. Na semana passada, O NRE enviou um documento às escolas para que discutissem com os alunos a proposta de reforma do ensino médio e enviasse para nós as propostas”, afirma.
Maria Onide antecipou que a Secretaria de Educação já sinalizou que vão vai aderir os pontos mais polêmicos da proposta. “Não vamos mexer na grade curricular, não vamos aceitar professores com notório saber nem vamos ampliar as horas aulas sem ter estrutura”, garante.