"Sim, Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem, já não vivam para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressurgiu” (II Cor 5, 15)
Num momento de revisão de vida, diante deste Tempo Santo que se aproxima, é importante olhar para dentro de nós mesmos, naqueles lugares onde armazenamos sentimentos e, por vezes, a falta deles. E, abrindo as comportas do mais íntimo de nossos sentimentos, deixando aflorar angústias e questionamentos, nos dirigimos a Deus, que tudo sabe e tudo vê. E, nesse escancarar dos anseios, refletir.
Alguém, de repente, deparou-se com um convite: ‘viva a Semana Santa’. Um filme, feito de lembranças remotas, com memórias quase que apagadas, começou a ser exibido diante dos seus olhos. Não que quisesse, mas não teve domínio sobre sua própria vontade. Olhos e ouvidos fixos no chamado à vivência da Semana Maior (tentando convencer-se que era pura curiosidade), indagou-se há quanto tempo não se encontrava com o Senhor. Pensou: sempre O encontro. Por hábitos, preceitos e obrigação, mas sempre O encontrava mesmo, era fato. Sentiu um lampejo de realidade! Um incômodo surgiu, brotado de não sabe onde, forte e profundo. Percebeu que os encontros que havia tido até então, não foram tão profundos quanto imaginava. Toda vez em que o Senhor o tomava pelas mãos, ele se desvencilhava rapidamente, pois o tempo era escasso, os compromissos pessoais demasiados urgentes e, na realidade, sequer se despedia do Cristo, tão enorme era sua pressa ou, quem sabe, o medo do compromisso. Sua mente, tomada de sentimentos mais profundos, foi desenhando as cenas da Semana Santa. Num confronto pessoal, doloroso e real, lembrou-se de quantas vezes, perdido sem saber o que fazer, aclamou Jesus como Rei, gritando “Hosana, salva-me!” e, após ser atendido, esqueceu-se Dele e viveu a própria realeza humana, cotidiana e fugaz, sem ao menos uma prece de gratidão. Veio-lhe à mente os momentos em que, cheio de manchas e cheirando a pecado, teve seu corpo e sua alma e não somente os pés, lavados pela misericórdia Divina, no perdão de seus inúmeros e repetidos pecados! A frase ‘vá e não peques mais’ lhe soava apenas como mais um conselho, dito no teor da absolvição. Doí-lhe o coração, algo meio estranho acontecia dentro dele ao perceber quantas Eucaristias havia recebido e deu-se conta de que, tendo Jesus dentro de si, não permitia que Ele agisse nas áreas de sua vida. Lágrimas escorreram de seus olhos quando percebeu que suas atitudes de indiferença à presença Santíssima de Jesus, mantiveram-no distante da Graça, da maravilhosa Graça doada por Deus. Em seus caminhos, quantas vezes deixou de ser Cirineu, pois tinha os olhos voltados apenas para o peso de sua própria cruz? Quantas vezes ainda, sequer olhou para a Mãe de Jesus, que sentia na alma e no corpo as dores do Filho? Quantas lágrimas ele deixou de enxugar diante dos sofrimentos dos que o rodeavam e, como expectador, apenas assistiu ao desenrolar dos fatos, e só isso! Vendo o Cristo pender no alto do Madeiro, desfigurado, morto, despido e despojado de toda dignidade humana, encarou a própria fragilidade. Ao dar conta e ter a certeza de que Cristo morreu por ele, sentiu acender em seu peito um facho de Luz, um resquício de esperança de que ainda teria a chance de realmente viver esta Semana Santa como se fosse a primeira de sua vida e, talvez, a última. Num despertar de consciência, teve a certeza de que Cristo deu a própria vida em favor da sua (e da nossa!), para que pudesse viver e alcançar a Salvação. E nós, por quem daríamos a nossa vida?
Amados filhos, Cristo, o Verbo Encarnado, nasceu para morrer por nós! Morrendo por nós, alcançou-nos a Luz da Eternidade, da feliz esperança e da certeza de que somos amados e abençoados, “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura” (II Cor 5, 17). Cristo viveu, morreu e ressuscitou por cada um de nós. Seu desejo para nós no hoje, é que tenhamos consciência de que a conversão precisa ser agora. Vivamos com fé, amor e doação esta Semana Santa!