ROGÉRIO RIBEIRO

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Fumaça e responsabilidade humana

Da Redação

| Edição de 24 de setembro de 2024 | Atualizado em 24 de setembro de 2024

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Sempre acompanhei nos noticiários o problema das queimadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia. A fumaça que tomava conta das áreas urbanas parecia algo distante, fora da nossa realidade. Nunca imaginei que um dia presenciaria isso em nosso país, muito menos na cidade em que resido. Hoje, porém, a fumaça das queimadas no Brasil, em nosso estado e município, está no ar que respiramos. Será essa, de fato, a nova realidade que teremos de enfrentar?

Nos acostumamos a ver desastres ambientais ao redor do mundo. A passividade com que observamos desastres ambientais em outros países é reflexo de uma percepção distorcida de que esses eventos jamais nos afetariam. Agora, esta tragédia é real. Não apenas estamos sendo afetados, mas também somos coadjuvantes em um drama global. A fumaça das queimadas está aqui, sufocante e visível. Isso nos mostra que as ações humanas têm consequências e que ignorá-las não é mais uma opção.

Recentemente, assisti a uma palestra do professor Marcellus Caldas, da Kansas State University, que trouxe um panorama sobre as queimadas nos Estados Unidos. Ele explicou que, em muitos casos, são necessárias para controlar áreas produtivas. Isso me pareceu contraditório, mas, com a explicação do professor, entendi a importância das políticas de prevenção e monitoramento, comuns nos Estados Unidos e na Europa. Lá, universidades, institutos de pesquisa e órgãos governamentais monitoram as queimadas, emitem alertas e orientam a população, algo que deveria ser mais valorizado no Brasil.

Aqui, temos o MapBiomas, uma iniciativa colaborativa que reune ONGs, universidades e startups. O MapBiomas faz o mapeamento anual da cobertura e uso da terra, além do monitoramento mensal da superfície de água e das cicatrizes de fogo. Uma consulta simples na plataforma mostra dados preocupantes: de 1985 a 2023, o Brasil acumulou uma cicatriz de fogo de 16,2 milhões de hectares, o que corresponde a 40% da floresta brasileira em 2023. Esse número representa 23,4% da área total do país.

No Paraná, a cicatriz de fogo acumulada foi de 834 mil hectares, equivalendo a 4,2% da área total do estado. Já na Região Imediata de Apucarana, o total foi de 5,8 mil hectares, representando 1,8% da área total e 84,2% da área não vegetada.

Esses dados são mais do que estatísticas: são um alerta para as consequências ambientais e econômicas das queimadas. Elas afetam diretamente o setor produtivo, prejudicando a agricultura e a pecuária, além de trazer riscos notáveis à saúde da população. Precisamos admitir que o ser humano é tanto responsável quanto vítima dessas práticas. É nosso dever cívico e humanitário combater essas ações, e isso inclui a valorização das universidades e centros de pesquisa que monitoram e estudam essas questões.

As universidades desempenham um papel estratégico ao produzir conhecimento e conscientizar a sociedade sobre os riscos ambientais. Elas são agentes fundamentais no combate à destruição ambiental, oferecendo soluções baseadas em ciência e evidências. Em um cenário de negligência ambiental, são elas que iluminam o caminho para um futuro mais sustentável.

Como sintetizado pelo pensamento do filósofo Hans Jonas sobre o princípio da responsabilidade, temos que ele deve se impor sobre todas as formas de ação humana que possam causar efeitos de longa duração sobre as condições de vida da humanidade e do planeta. O monitoramento e a responsabilização pelas queimadas deve ser prioridade. A responsabilidade é nossa, e o futuro depende das ações que tomarmos agora