ROGÉRIO RIBEIRO

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O papel social das compras públicas

Da Redação

| Edição de 02 de setembro de 2025 | Atualizado em 02 de setembro de 2025

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A ideia de riqueza das nações mudou muito ao longo da história. No período mercantilista considerava-se que um país era rico quando acumulava metais preciosos. Os economistas clássicos, sobretudo Adam Smith, entendiam que a riqueza passou a ser a capacidade produtiva da sociedade, baseada no trabalho humano, na divisão das tarefas e no livre mercado. David Ricardo enfatizou a importância da distribuição entre salários, lucros e rendas, enquanto Karl Marx chamou a atenção para a exploração da mais-valia e para as contradições do capitalismo.

Já os economistas neoclássicos deslocaram o debate para a utilidade e a satisfação individual, entendendo riqueza como o conjunto de bens e serviços que maximizam o bem-estar. No século XX, John Maynard Keynes ampliou essa visão ao destacar a necessidade de o Estado intervir na economia, garantindo o pleno emprego e a estabilidade da demanda agregada como condições para a prosperidade.

No contexto contemporâneo, a discussão se complexificou. O Produto Interno Bruto ainda é a medida mais utilizada, mas já não é suficiente para definir o que significa ser uma nação rica. Hoje, considera-se que a verdadeira riqueza está ligada à qualidade de vida da população, à equidade social, à saúde, à educação e, sobretudo, à sustentabilidade ambiental. A economia do desenvolvimento humano, inspirada em autores como Amartya Sen e Martha Nussbaum, reforça a ideia de que o que importa é a expansão das capacidades e liberdades das pessoas. Nesse sentido, o aspecto distributivo da renda é central, porque não basta que a sociedade produza muito. É necessário que os frutos desse crescimento cheguem a todos.

Essa reflexão é fundamental quando se trata de compreender o papel social das compras públicas. O Estado é um dos maiores compradores de bens e serviços, e cada decisão de contratação tem impacto direto na circulação da riqueza. Quando um governo municipal ou estadual decide adquirir produtos de fornecedores distantes, transfere recursos e, consequentemente, oportunidades de emprego e renda para outras localidades. Ao contrário, quando prioriza fornecedores locais, cria um ciclo virtuoso que potencializa a economia da própria região, fortalece cadeias produtivas próximas e contribui para o enraizamento das empresas no local.

Entretanto, esse incentivo ao local não pode ignorar a necessidade de vantajosidade. Comprar de fornecedores da região é desejável, mas desde que os preços sejam compatíveis e que os benefícios sociais possam ser comprovados de maneira objetiva. O benefício social pode ser intangível em sua natureza, mas precisa ser mensurado e apresentado de forma clara para demonstrar que é eficiente, eficaz e efetivo, garantindo que os recursos públicos, frutos dos impostos pagos pela sociedade, estejam retornando em melhorias para a coletividade.

A evolução do conceito de riqueza revela que prosperidade se mede pela capacidade de transformar produção em bem-estar, reduzir desigualdades e assegurar um futuro sustentável. O poder público precisa estar atento ao seu papel social, compreendendo que cada contratação vai além de um simples ato administrativo. As decisões de aquisição devem respeitar o princípio da vantajosidade, considerar os impactos sobre a economia local e garantir que os benefícios sociais sejam mensuráveis e efetivos. Dessa forma, o gasto público deixa de ser apenas uma questão de eficiência econômica e passa a se consolidar como um instrumento estratégico de desenvolvimento, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e próspera.