Os fiéis católicos vivem a Sexta-feira Santa sob jejum e abstinência. A lembrança da crucificação de Jesus Cristo e sua morte no Calvário é momento de silêncio e reflexão. Há oito anos, a moradora de Apucarana, Célia Regina Alves Pereira, 56 anos, passa a data descalça.
Fiel da Paróquia Cristo Sacerdote, a diarista retribui com o gesto, uma graça recebida em 2016. “A gente não faz trocas e barganhas com Deus. Mas eu pedi muito uma graça e prometi que, se eu alcançasse, iria fazer algo que iria me sacrificar em forma de agradecimento”, conta.
A filha de Célia foi diagnosticada com puberdade precoce aos dois anos de idade. A doença, se não tratada, poderia resultar em consequências graves como problemas na coluna, nos ossos e até mesmo com problemas mentais.
A diarista relembra que, na época, a família não conseguiu que o tratamento, que envolvia diversos exames e medicamentos, fosse custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Foram muitos anos de tratamento, ela só teve alta médica em 2016, e foi um processo muito caro e dolorido. Demorou, mas graças a Deus ela está curada, linda e maravilhosa hoje”, comemora. Atualmente com 25 anos, a filha Stephany Pereira Gomes mora em Santa Catarina com o marido e espera a chegada da primeira filha, que deve nascer nos próximos dias.
A intenção de permanecer descalça às Sextas-feiras Santas surgiu logo após a alta médica da filha. Célia Regina relembra que não sabia o que faria como retribuição, mas teve a confirmação da sua missão através de sonho. “Eu pedi muito a instrução de Deus e uma luz para me guiar, até que um dia eu sonhei com isso. Pedi mais um sinal para confirmar e, quando sai para trabalhar, encontrei uma pessoa andando descalça na rua”, revela. “Quando eu vi aquilo, me chamou muito a atenção, me arrepiei inteira e eu entendi o que Deus queria de mim”.
Decidida de sua intenção, não importa a previsão do tempo – chuva, sol, tempestade ou dilúvio – a diarista não coloca sapato nos pés desde o primeiro minuto da Sexta-feira Santa até o início do dia seguinte, o Sábado de Aleluia. “Independente do lugar que eu esteja ou onde eu vou entrar, eu não uso sapato para nada. Se eu chegar em algum lugar e a pessoa me falar ‘não pode entrar descalça’, eu simplesmente não entro”, afirma.
Para ela, andar descalça e enfrentar dores é um sacrifício mínimo diante da graça recebida e da enormidade do sofrimento de Jesus Cristo. “A dor no pé é uma dor que dá para suportar, às vezes fica mais difícil dependendo do lugar. Mas eu penso que andar descalça é muito pouco perto do que Jesus viveu e como ele morreu por nós. A dor que sinto é mínima perto do que Ele sofreu”, pondera. Além disso, a diarista brinca que durante oito anos de intenção realizada, os pés só machucaram na primeira vez. (ANA QUIMELO)