ABRAHAM SHAPIRO

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Sucesso ou fracasso?

Da Redação

| Edição de 15 de setembro de 2025 | Atualizado em 15 de setembro de 2025

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Em 1714, a Inglaterra dominava os mares como a maior potência naval do mundo, comandando uma frota de mais de 300 navios de guerra e controlando rotas comerciais que se estendiam da América às Índias Orientais. Porém, seus navios enfrentavam um problema mortal: não sabiam calcular a longitude no mar. Enquanto determinar a latitude era relativamente simples através da observação solar, a longitude permanecia um mistério que custava caro. Entre 1673 e 1714, estima-se que mais de 10.000 marinheiros britânicos morreram em naufrágios causados por navegação imprecisa.

O desastre das Ilhas Scilly, em 1707, foi o catalisador final. Quatro navios da frota do Almirante Cloudesley Shovell se perderam na névoa e naufragaram, matando cerca de 2.000 homens. O Parlamento, desesperado, criou o Longitude Act em 1714, oferecendo 20.000 libras esterlinas — equivalente a aproximadamente 5 milhões de dólares atuais — para quem resolvesse o problema com precisão de 30 milhas náuticas.

Os maiores gênios da época, incluindo Isaac Newton, Edmond Halley e Leonhard Euler, apostaram em soluções astronômicas complexas baseadas nas posições lunares. John Harrison, um carpinteiro autodidata de Yorkshire sem educação formal, ousou pensar diferente: “E se a solução não estiver nas estrelas, mas no tempo?”

Harrison compreendeu que conhecendo a hora exata de um meridiano de referência (Greenwich) e comparando-a com a hora local, seria possível calcular a longitude com precisão matemática. Durante 40 anos, construiu cinco cronômetros marítimos revolucionários. O H4, concluído em 1759, pesava apenas 1,45 kg e funcionava com precisão de relojoaria mesmo nas condições adversas do mar.

Em 1761, durante uma viagem de 81 dias às Índias Ocidentais, seu relógio errou apenas cinco segundos — uma precisão que permitia determinar a posição com margem de erro de apenas 1,25 milhas náuticas, superando em muito a exigência do Parlamento.

John Harrison foi um fracasso ou sucesso? Ele gastou quase toda a vida enfrentando ceticismo da comunidade científica, burocracia governamental e disputas por reconhecimento. Apenas aos 77 anos recebeu oficialmente o prêmio. Contudo, sua invenção salvou incontáveis vidas, revolucionou a navegação mundial e estabeleceu os fundamentos da cronometragem de precisão que hoje possibilita tecnologias como GPS.

A lição perdura: sucesso e fracasso frequentemente coexistem na mesma jornada, e o verdadeiro resultado não está no desafio enfrentado, mas na persistência da resposta escolhida.