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O "pai" da Cidade dos Pássaros

Vanuza Borges

| Edição de 09 de outubro de 2016 | Atualizado em 02 de dezembro de 2016

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Dono de uma memória afiada, Liberto Mantovani, 92 anos, lembra como se fosse hoje de quando propôs o projeto de lei para que as ruas de Arapongas, que por sinal é uma ave, recebesse somente nomes de pássaros. O ano era 1964 e a proposta foi aprovada por unanimidade na Câmara de Vereadores. A partir deste momento, Arapongas ganhou o codinome de “Cidade dos Passarinhos”. Amanhã, a cidade completa 69 anos de emancipação político-administrativa.

“Arapongas é um pássaro ferreiro, que produz o som parecido com um martelo, e algumas ruas também tinham nomes de passarinhos. Então, tive a ideia de propor que toda rua da cidade recebesse um nome de pássaro, porque as vias do centro, que eram bem poucas na época, também faziam fazia referência às aves”, recorda. Outras ruas tiveram o nome alterado. Por exemplo, a Avenida Arapongas já foi chamada de Central e Getúlio Vargas. E a Rua Flamingos de Formosa.

Apaixonado pelo canto do sabiá, seu Liberto nunca teve um pássaro de estimação. “Passarinho tem que ficar solto na natureza. Não preso numa gaiola”, defende. Aliás, ele avalia que a liberdade de voar faz parte da beleza e da graça das aves. “Gosto de vê-las voando na natureza. Uma vez vi um bando de tucanos voando juntos, perto de Aricanduva. Foi encantador”, recorda.

Pioneiro, ele chegou de Cedral, interior de São Paulo, em 1937 no município. Como autor da proposta até hoje ele se preocupa em pesquisar nomes de aves. Recentemente comprou um guia com 1, 8 mil nomes de pássaros somente da fauna brasileira. “Quero comprar outro livro com os nomes dos pássaros do mundo. Ainda não encontrei, mas sei que existe e estou procurando”, afirma.

Imagem ilustrativa da imagem O "pai" da Cidade dos Pássaros

Apaixonado por leitura, ele não quer o livro para a sua coleção pessoal, mas para doar. “Não sei se vou entregar para a Câmara Municipal ou para a biblioteca”, revela. A doação seria um meio de pesquisa para futuros nomes. “A Prefeitura tem mecanismos de pesquisa para nomear os nomes das futuras. Atualmente, já são mais de 1,2 mil ruas com nomes de pássaros. E tenho certeza que não vai faltar nome para novas vias”, acredita.

Como argumento, seu Liberto tem nas mãos o Guia Completo de Identificação de Aves do Brasil, com 1,8 mil nomes. “Os pássaros recebem diferentes nomes dependendo para região do Brasil. Também tem as famílias, o que aumenta muito as opções”, diz. Por exemplo, o sabiá, que tem o apreço de seu Liberto, pode ser simplesmente sabiá, sabiá-laranjeira, sabiá-branco, sabiá-do-peito-branco, sabiá-bico-amarelo, sabiá-bico-de-osso e sabiá-bico-de-louça.

Por outro lado, o autor da “Cidade dos Passarinhos”, apesar as inúmeras fontes de pesquisa disponíveis na internet, gosta mesmo dos livros. “Ainda não me acostumei com o computador. Parece que as pessoas ficam escravo dele”, questiona.

Primeiras ruas foram batizadas pela família

Em abril de 1964, quando Liberto Mantovani apresentou a proposta de nomear as ruas de Arapongas com nomes de pássaros, também levou pessoalmente inúmeras sugestões. A esposa Aurora, 93 anos, e os filhos, Irahi, Irondi, Rangel, Elizabeth e Sueli, passavam horas pesquisando em livros e dicionários nomes de pássaros. “Os mais comuns nomearam as ruas do centro”, recorda Irondi, que foi vereadora de Arapongas e deputada estadual.

Dona Aurora, que também dispõe de uma memória impecável, recorda com perfeição que os momentos de pesquisa trouxeram muitas gargalhadas em família. “Têm nomes de aves que não dá para colocar em uma rua. Eu dizia não coloque esse nome, porque eu não gostaria de dizer que moro nessa rua”, recorda. O motivo é a diversidade linguística do regionalismo.

Já a filha Irondi destaca que o projeto hoje faz parte da identidade da cidade. “Trouxe notoriedade para a cidade e faz parte da nossa identidade”, avalia. E, por isso, revela que os nomes de pessoas ilustres da cidade nomeiam as praças, jardins e in