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Produção de orgânicos dispara na região

Fernando Klein

| Edição de 22 de julho de 2022 | Atualizado em 22 de julho de 2022

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A agricultura orgânica está ganhando espaço nos municípios da região. São 87 produtores inscritos no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos em 2022 contra 25 em 2019, um crescimento de 248%. O número, no entanto, é muito maior. Há vários agricultores cultivando produtos sem agrotóxico e respeitando uma série de regras agroecológicos, mas que ainda estão em fase de transição para ingressar no cadastro.

Apucarana é a cidade da região com mais produtores orgânicos inscritos. São 28, no total. Outras duas cidades também se destacam: Jandaia do Sul, com 18, e Jardim Alegre, com 16. Os demais estão distribuídos em 9 municípios (ver grafo). Em 2019, o mapa dos certificados era diferente: Arapongas (9), Marilândia do Sul (4), Jandaia do Sul (3), Kaloré (3), Apucarana (2), Jardim Alegre (2) e Rio Branco do Ivaí (2).

O coordenador do programa de agroecologia no Paraná, André Luís Alves Miguel, do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-PR), afirma que o Paraná é o estado com o maior número de produtores orgânicos do País. “O Paraná responde, atualmente, a 16% do número total agricultores no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos”, explica.

Segundo ele, o setor está em expansão. “Nós temos um cálculo de que a produção orgânica dobra a cada quatro ou cinco anos”, assinala.

Segundo ele, a procura por alimentos saudáveis é uma tendência mundial. Os produtores paranaenses, na maioria, atuam com olericultura (legumes e verduras). No entanto, muitos já estão apostando em grãos orgânicos (soja e milho), principalmente para abastecer a produção de ovos orgânicos. “Duas empresas do Paraná começaram até a exportar grãos orgânicos, mas pararam porque não conseguem atender a demanda nacional, onde há uma grande procura ovos orgânicos e proteína orgânica animal”, explica.

Na região, ele explica que a produção atende o eixo Londrina-Maringá. Os produtos orgânicos estão disponíveis em feiras e também na rede de supermercados.

Ele explica que são três sistemas de certificação disponíveis. O governo estadual também criou o “Paraná Mais Orgânico”, que é um programa de incentivo aos produtores interessados nesta área e que também atua na certificação.

Ele explica que a produção orgânica vai além do não uso de agrotóxicos – item preponderante-, mas inclui também adequações na propriedade, desde questões envolvendo a destinação correta do lixo até a proteção do solo e da água. Por conta da maior mão de obra, os preços dos orgânicos são mais altos. Nas feiras, os valores estão 17%, em média, mais caros que a produção convencional. Nos supermercados, o valor é até o dobro mais alto. “Os supermercados ainda tratam os orgânicos como produto de luxo”, observa.


Preços são mais estáveis’, afirma produtor

Nilza Maria de Oliveira Santos, de Jardim Alegre, moradora na região do Palmeirinha foi uma das primeiras produtoras a receber a certificação Tecpar no Vale do Ivaí. Ela conta que primeiro recebeu o selo IBD em 2008, maior certificadora de produtos orgânicos e sustentáveis da América Latina. O selo do Tecpar veio em 2012. “Me sinto muito feliz em estar produzindo orgânicos, além de mais saúde para nós que plantamos e para os consumidores, contribuímos com uma produção sustentável, que não contamina o meio ambiente”, relatou Nilza, que atualmente produz morango junto com o marido João Batista dos Santos. Os dois viraram exemplo e deram muitas palestras no Instituto Federal do Paraná (IFPR).

Herinton Rosa dos Santos, tecnólogo em agroecologia, também morador da região do Palmeirinha, diz que se interessou pelos orgânicos justamente quando iniciou o curso no IFPR. “Nós produzíamos o tomate convencional. Em 2017, comecei a estudar. O orgânico é uma cultura bem diferente da convencional, que era com veneno e bastante química. Aos poucos fomos fazendo a transição ecológica e aí certificamos em 2019”, relatou Herinton.

Hoje na propriedade eles têm três estufas de 530 metros² cada uma, onde produzem para tomate italiano e tomate cereja e abobrinha em campo aberto. Toda a produção é comercializada diretamente para uma empresa de São José dos Pinhais.

Com relação aos produtos orgânicos ele diz que a grande vantagem comercial, é que os preços se mantêm mais estabilizados. “No convencional por exemplo, numa semana o preço do tomate está a R$100 daqui duas semanas está a R $30 a caixa. Já o orgânico os preços se mantém padrão, entre R$100 a R$120. Isso é uma garantia maior”, destacou Herinton.


Apucarana pode ter 1º abatedouro orgânico

Presidente da Cooperativa Familiar Agroecológica de Apucarana (Coofagro), Alex Machado da Ponte é um entusiasta da produção orgânica de alimentos e tem planos ambiciosos na área para o município.

Dono de uma propriedade na região do Pinhalzinho, Alex é um dos dois integrantes de Apucarana no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos desde 2019. Ele cultiva vários alimentos, desde abacaxi, abóbora, mandioca, alface, rabanete até pitaya.

No entanto, o produtor quer ir além. Ele já começou a produção de milho orgânico e também de frango caipira orgânico com aves da raça Paraíso Pedrês. “Nosso objetivo é abrir em Apucarana o primeiro abatedouro orgânico do Paraná. Estamos trabalhando fortemente nisso”, diz o produtor.

Ele não esconde a sua paixão pela agricultura orgânica, que divide com a esposa Renata Ferreira Machado Ponte, outra grande entusiasta. O casal começou a produzir alimentos livres de agrotóxicos, inicialmente, para consumo da família. “A produção foi aumentando depois para atender amigos. Agora, virou nosso sustento”, diz.

Alex diz ter orgulho do trabalho. “Em primeiro lugar, temos prazer em levar um alimento de primeira qualidade para a mesa das pessoas”, afirma. Ele vende sua produção na Feira dos Orgânicos, realizada toda quinta-feira, a partir das 14 horas, na Praça da Onça em Apucarana e também aos sábados no Zerão, em Londrina.

Ele admite que o produto é mais caro por conta da maior mão de obra, mas orienta a população a comprar nas feiras, onde o valor não é tão diferente, ao contrário dos supermercados. “O produto é fresquinho. Sai da mão do produtor, sem nenhum intermediário”.