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Rio Ivaí pode ganhar primeira hidrelétrica

Ivan Maldonado

| Edição de 12 de julho de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Moradores de Jardim Alegre e de Grandes Rios irão discutir em audiência pública na próxima semana um pedido de anuência da Rafitec S/A, de Xaxim/SC, ao poder público para a instalação de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) no Rio Ivaí, na divisa entre os dois municípios. O empreendimento hidrelétrico PCH Coqueiro tem o registro de intenção de outorga da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e prazo de 14 meses para elaboração do projeto básico. 

A proposta gera polêmica no Vale do Ivaí. Ambientalistas e pescadores criticam a instalação de usinas hidrelétricas no Rio Ivaí. Além desse projeto entre Jardim Alegre e Grandes Rios, há pelo menos outros quatro prevendo pequenas usinas hidrelétricas no Rio Ivaí em municípios da região. 

A PCH Coqueiro seria a primeira a sair do papel na região. A usina terá potência instalada de 28,1 megawats (Mw) e área de reservatório de 259 hectares, sendo 180 hectares do próprio leito do rio e 79 hectares fora do leito. A barragem será construída seis quilômetros abaixo da balsa do Marolo, em Grandes Rios. O reservatório terá extensão de aproximadamente oito quilômetros. 

Imagem ilustrativa da imagem Rio Ivaí pode ganhar primeira hidrelétrica
Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Coqueiro seria instalada abaixo da balsa do Manolo, em Grandes Rios | Foto: Ivan Maldonado

De acordo com o diretor do empreendimento, Neimar Brusamarello, será uma pequena hidrelétrica com alta capacidade de produção de energia e de baixo impacto ambiental. “A usina não desloca as famílias de suas terras. O PCH Coqueiro será fundamental para a criação de empregos diretos e indiretos na região e mais ICMS para as prefeituras”, defende Brusamarello. 

Ele relata ainda que, embora o inventário inicial apresentado a Aneel previsse 79 hectares de área de terra inundada fora do leito, a expectativa é que seja menor. “A inundação será apenas na beira do rio e em área que se encontra degradada. Acredito que com o projeto finalizado a área será de menos de 50 hectares”. O projeto também prevê reflorestamento de 30 a 50 metros no entorno da área do reservatório. “Que é bem mais do que existe hoje naquela área”, explana Brusamarello. 

Em Grandes Rios, a audiência pública está marcada para a próxima segunda-feira, dia 17, às 19 horas. Em Jardim Alegre, o evento acontece na terça-feira, dia 18, às 19h30. A advogada da prefeitura de Jardim Alegre, Paula Cristiana Franco de Souza, convoca a população. “É um empreendimento grande que vai gerar divisas, emprego e melhorias nas estradas, mas é importante que toda a população participe da audiência pública para sanar quaisquer dúvidas”, assinala Paula Cristina.

O prefeito de Jardim Alegre, José Roberto Furlan (PPS), diz que recebe a proposta da Rafitec S/A de bom grado. “Mas precisamos ter cautela. Já convidamos o Ministério Público da Comarca e toda a sociedade para ouvir os empresários da PCH que vão apresentar a proposta na audiência pública. É um grande empreendimento que pode gerar muitas divisas, porém temos que aguardar o parecer da sociedade”, completa Furlan.
Projeto é alvo de críticas

POLÊMICA
 A realização de audiências públicas para discutir a instalação da central hidrelétrica no Rio Ivaí pegou de surpresa membros da ONG Pró-Ivaí-Piquiri, que defende as bacias dos rios Ivaí e Piquiri. A entidade é contra a instalação desse tipo de empreendimento. “Pelas informações que temos do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) não há nenhum Eia/Rima (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental) para usinas hidrelétricas no Rio Ivaí”, afirma Marildo Oliveira, integrante da ONG e coordenador da Patrulha Ambiental do Rio Ivaí.  

Segundo ele, o empreendimento é prejudicial para o meio ambiente e vai afetar diretamente pescadores e produtores rurais da região. “O Ivaí é um dos únicos rios desse porte que não tem nenhuma barragem. É considerado um berçário natural de peixes, sendo responsável por todo o povoamento de espécies do Rio Paraná, porque é o único rio onde os peixes conseguem fazer a piracema”, assinala, acrescentando que os prejuízos ambientais seriam “incalculáveis”. 

A engenheira agrônoma de Ivaiporã, Eliane Bitencourt Santos, especialista em Gestão Ambiental, é mais cautelosa na avaliação. Ela esclarece que os impactos e suas intensidades são variáveis, dependendo das características locais e do porte de cada empreendimento. Dentre os aspectos negativos, ela destaca os danos à vegetação e aos animais, inundação de áreas agricultáveis, deslocamento de populações ribeirinhas, interferência na migração dos peixes, alterações hidrológicas à jusante da represa, alterações na fauna aquática. Como positivos, cita a produção de energia, geração de empregos e divisas aos municípios. “No entanto, somente através de um estudo de impacto ambiental imparcial e bem elaborado, e de pareceres de órgãos ambientais governamentais e não governamentais, a população poderá decidir, através de audiências públicas, pela aceitação ou não do empreendimento na localidade”, opina.

 

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