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Sotaques na escola

Silvia Vilarinho

| Edição de 16 de junho de 2019 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Com a esperança de uma vida melhor, Renand Jean Baptiste, de 43 anos, deixou o Haiti e trouxe a esposa, os dois filhos e a cunhada para morar no Brasil. A cidade escolhida para o recomeço foi Apucarana. Há cinco anos os haitianos estão na cidade – eles moram no Núcleo João Paulo – e uma das primeiras medidas tomadas pela família foi matricular as crianças na escola. Renaisha Yana, 8 anos, e o irmão Roodney, 6, fazem parte de um grupo de 38 crianças com origem estrangeira que estudam na rede municipal de educação.


Renaisha Yana chegou em Apucarana com apenas três anos, mas se lembra como foi o primeiro dia na creche. “Eu fiquei com muito medo, não entendia nada. Mas com o tempo fui me acostumando com as palavras, fui aprendendo e, quando eu percebi, já estava falando português”, conta a menina.
O pai comenta que a família se preocupou com a transição das crianças. No Haiti, Renaisha Yana passava quase o dia todo na escola por dia na escola. “Quando cheguei em Apucarana e percebi que a escola aqui também funcionava o dia todo, fiquei muito feliz. Quando consegui matricular meus filhos foi uma  grande alegria”, destaca.
O pai ainda disse que o caçula Roodney Elchin tinha apenas um ano quando chegou na cidade. Os dois, além do português aprendido na escola,  ainda falam em francês e criolo, idioma do Haiti. “Não sei ainda o que quero do meu futuro, mas quero continuar estudando, amo a minha escola de Apucarana”, disse a menina.
Além dos irmãos estrangeiros, existem 38 crianças de outros países que estudam em Apucarana. Elas vieram de Cuba, Japão, Paraguai, Espanha, Venezuela, Estados Unidos, Itália e Portugal.
Matheus Ribeiro Guimarães tem oito anos. Ele nasceu em Portugal, mas é filho de brasileiros. O pai, Márcio Oliveira, conta que ele a a esposa  resolveram voltar para o Brasil justamente por conta do nascimento de Matheus. Apesar da barreira da língua não existir, a família também ficou apreensiva com a adaptação.
“As circunstâncias da vida me trouxeram novamente para o Brasil. Quando voltei fiquei cinco anos em Guarapuava, depois que vim morar em Apucarana. Minha preocupação era achar uma escola boa, assim como as de Portugal. Lá eles estudavam o dia todo e eu trabalhava tranquilo. Além disso,  desde pequenas as crianças aprendiam outros idiomas. Me sinto aliviado por ter encontrado um ensino tão bom e ele também fica na instituição o dia todo, o que me ajuda muito”, detalha Márcio.
O garoto estuda na Escola Municipal Antonieta da Silva Lautenschlager. A escola conta com outro aluno estrangeiro, Lorenzo Fucile, de seis anos, que veio da Itália.
O menino chegou em Apucarana com apenas três anos e meio, mas a mãe Andrea Meneguetti da Costa, 43 anos, conta que o ele já estudava em uma escola particular na Itália.
Andréa, que é cozinheira em Apucarana, viveu 14 anos na Itália e voltou para o Brasil após o fim do relacionamento. Ela lembra que pagava quatrocentos euros por mês para a escola que oferecia aulas de alemão, francês, inglês além do italiano. A instituição também ofertava aulas de músicas e diversos esportes.
“Quando cheguei em Apucarana, matriculei meu filho no CMEI Onesimo de Oliveira Moraes. Foi lá que meu filho aprendeu a falar o português e eu sou muito grata pelas professoras por ensinarem tão bem e pela paciência, pois ele não entendia nada, mas em três meses ele já falava a nossa língua”, ressalta a mãe.

Alunos têm acompanhamento
Segundo os dados divulgados pela Autarquia Municipal de Educação (AME) de Apucarana, além das 38 crianças que estudam na cidade existem outros setes adultos de outros países que estudam na Educação para Jovens e Adultos (EJA).
Segundo a Autarquia, a educação disponibiliza professores de apoio aos alunos estrangeiros que têm dificuldades com o nosso idioma, para ajudá-los nas atividades em sala de aula. A maneira de trabalhar o conteúdo também é adaptada, valorizando as histórias e tradições do país de cada um e priorizando o ensino do vocabulário essencial nas diversas situações do dia-a-dia, como no comércio, na locomoção e etc.
Em Arapongas, município que também recebe muitos estrangeiros, a Secretaria Municipal de Educação afirma que a rede tem 32 alunos estrangeiros, desses 16 são crianças.

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