Aos 34 anos, descobri que sou uma pessoa com TDAH. Depois de uma vida de estereótipos, enfim descobri minha companheira de jornada, que não era tão invisível quanto eu imaginava. E como descobri? Ao investigar sobre o transtorno em relação a minha filha mais velha, durante as anamneses muita coisa falava mais sobre mim do que dela. Foi quando decidi fazer uma nova investigação com outros profissionais e lá estava ela, sentada a beira da janela da minha vida, assistindo e interferindo em todos os momentos em que eu me achava apenas insuficiente.
Após o mestrado, em que as crises de ansiedade eram comuns pelo tratamento que recebia de minha orientadora (isso conto em outro momento, mas ela nem estava na minha banca de defesa), e tendo continuado no doutorado, os acompanhamentos psiquiátricos apresentavam apenas quadros de ansiedade, depressão e fobia social. Sim, o professor de cursinho, de teatro e músico nas horas vagas tinha (tem) fobia social. Mas como eu estava sempre “no controle” das situações, conseguia remediar seus efeitos.
Hoje olhando para minha trajetória, o diagnóstico precoce poderia ter facilitado muita coisa, ainda que nunca tenha me impedido de realizar tudo o que propunha. A paralisia diante da falta de automotivação aliada a um perfeccionismo (isso não é qualidade), gerava um redemoinho de emoções que atrapalhavam a gestão do tempo e a eficiência naquilo que fazia. Sempre fiz tudo, mas parecia sofrer mais do que os outros.
Assumir isso hoje não se trata de uma justificativa ou vitimismo, mas de perceber como somos muito mais do que imaginamos – em todos os sentidos. O peso retirado das costas por entender que a procrastinação não era falta de vontade, mas ausência de dopamina para garantir a continuidade dos projetos, muda a visão de nós mesmos e do mundo. Como coaching educacional, principalmente com alunos do ensino médio e cursinho, traço planos de estudo, aconselho e sempre fui empático com suas especificidades, mas hoje o olhar é ainda mais aguçado. E tudo começou com a supervisão dada a minha filha – não posso oferecer aquilo que não vivo. Para não repetir frases que ouvi quando criança como, parar de preguiça, que a desatenção era falta de vontade e tantas outras que ainda ouvimos por aí, procurei ajuda para minha filha – e não julgo meus pais, pelo contrário, a falta de informação era suplantada pelo desejo de me ver cada vez melhor. Os estigmas ainda estão aqui.
Que possamos dar a atenção aos detalhes de cada um, as pessoas são múltiplas e muito mais complexa do que parecem. Usar nossa régua para medir a vida dos outros pode não apenas castrar sonhos, bem como tornar insuportável a mais básica das ações. Hoje estou de bem com o TDAH e meu desempenho, mas não deixe que seu filho/a passem a vida achando que são peças extras do quebra cabeça, afinal, somos um mosaico e não uma pintura.