ROGÉRIO RIBEIRO

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Economia em risco

Da Redação

| Edição de 14 de maio de 2024 | Atualizado em 14 de maio de 2024

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Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), a decisão de reduzir a taxa Selic para 10,5% foi marcada por uma divisão notável entre seus membros: 5 votos a favor de uma redução menor e 4 a favor de uma redução mais significativa. Essa divisão reflete não apenas diferentes visões econômicas, mas também a influência política que permeia o comitê. Os diretores indicados pelo governo Lula optaram por um corte maior, enquanto os remanescentes da gestão Bolsonaro preferiram um ajuste mais modesto. Este cenário traz à tona uma série de questões sobre a condução da política monetária e os rumos da economia brasileira.

A decisão do COPOM revela uma tentativa do executivo federal de reduzir os juros básicos, potencialmente por questões ideológicas, sem considerar os riscos inflacionários e o equilíbrio das contas públicas. A redução da taxa Selic, em teoria, visa estimular a economia ao baratear o crédito e incentivar o consumo e os investimentos. No entanto, em um contexto de pressão inflacionária, essa estratégia pode ser perigosa. A inflação, que já está acima do centro da meta estabelecida pelo Banco Central, pode se agravar, prejudicando o poder de compra da população e desestabilizando a economia.

Por outro lado, a redução dos juros pode aliviar a rolagem da dívida pública, que vem crescendo a um ritmo acelerado. Com a dívida líquida do setor público prevista para fechar o ano equivalente a 63,9% do PIB, e podendo atingir 68,0% ao final do mandato de Lula em 2026, a diminuição dos juros reduz o custo do serviço dessa dívida. Esse é um ponto positivo em um cenário onde a sustentabilidade fiscal é uma preocupação constante. Contudo, essa medida por si só não resolve os problemas estruturais das finanças públicas.

O Banco Central, apesar da divisão interna, reiterou seu compromisso com a meta de inflação de 3,0%. A autoridade monetária enfatizou que está disposta a tomar as medidas necessárias para alcançar essa meta, mesmo que a convergência seja difícil, lenta e custosa. Esse compromisso é crucial para manter a credibilidade da política monetária e ancorar as expectativas inflacionárias. Contudo, a persistente incerteza fiscal e a falta de compromisso com o equilíbrio das contas públicas por parte do governo e do legislativo complicam ainda mais essa tarefa.

Mas há também notícias positivas. A atividade econômica e o mercado de trabalho estão mais dinâmicos do que o esperado. A projeção de crescimento do PIB para 2024 é de 1,9%, com a mediana das expectativas de mercado apontando para um crescimento de 2,1%. Esses números indicam uma recuperação econômica, embora ainda tímida frente aos desafios estruturais que o Brasil enfrenta.

A decisão do BC de reduzir os juros de forma mais lenta foi justificada pelo aumento das incertezas, tanto locais quanto internacionais. Esse cenário exige cautela na condução da política monetária, para evitar desestabilizações maiores. A prudência é essencial em um contexto de volatilidade global e riscos internos elevados.

A última reunião do COPOM e a decisão de reduzir a Selic para 10,5% ilustram os complexos desafios que a economia brasileira enfrenta. A necessidade de equilibrar o estímulo econômico com o controle da inflação e a sustentabilidade fiscal é crucial. Como diz o ditado popular, “Quem tudo quer, tudo perde”. É necessário que o governo e os legisladores tenham prudência para não comprometer o futuro econômico do país em nome de ganhos imediatos, sob o risco de perder a estabilidade conquistada a duras penas.