A Polícia Federal (PF) cumpriu nesta quinta-feira 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, em endereços ligados a suspeitos de participar de espionagem ilegais na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), numa operação denominada de “Vigilância Aproximada”. Um dos alvos é o ex-diretor da Abin, deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que comandou a agência durante o governo Jair Bolsonaro (PL) e é pré-candidato à prefeitura do Rio com o apoio de Bolsonaro.
A operação apontou que os supostos espionados seriam figuras públicas, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joyce Hasselmann, e o ministro da Educação, Camilo Santana, na época governador do Ceará.
As diligências de busca e apreensão ocorreram em Brasília (DF), Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro (RJ).
A PF investiga a invasão clandestina da rede de infraestrutura de telefonia do País e o uso de técnicas próprias de investigação policial sem a devida autorização judicial. Segundo a investigação, o crime envolvia o uso de ferramentas de geolocalização em dispositivos móveis (celulares e tablets, por exemplo) sem autorização judicial e sem o conhecimento do próprio monitorado.
Segundo os investigadores da PF ainda durante a primeira operação, realizada em outubro de 2023, a Abin fez 33 mil monitoramentos ilegais durante o governo Bolsonaro. Do total, 1,8 mil foram destinados à espionagem de políticos, jornalistas, advogados, ministros do STF e adversários da gestão do ex-presidente.
Segundo as investigações da PF, havia tentativa de relacionar os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes a uma facção criminosa com o intuito de difundir notícias falsas.
No caso de Camilo Santana, policiais flagraram integrantes da Abin operando drones que sobrevoavam a residência oficial do atual ministro em Fortaleza.
A agência chegou a instaurar um processo administrativo contra dois servidores, mas o caso foi arquivado.
Nesta quinta-feira, o ministro Moraes reafirmou que o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, usou o órgão para fazer espionagem ilegal a favor da família do ex-presidente Jair Bolsonaro. Moraes também disse que a Abin foi usada para elaborar relatórios de defesa a favor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente.
Em nota, Flávio negou que a Abin tenha sido usada para favorecê-lo. “É mentira que a Abin tenha me favorecido de alguma forma, em qualquer situação, durante meus 42 anos de vida. Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”, afirmou.
Parlamentar nega ter praticado ato ilícito na agência
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), alvo de buscas, nesta quinta-feira, disse que nunca teve acesso às senhas de sistemas de monitoramento para espionar autoridades públicas e cidadãos comuns. A declaração foi dada durante entrevista à GloboNews nesta tarde desta quinta-feira.
“Nós da direção da Polícia Federal, policiais federais que estavam comigo, nunca tivemos a utilização, execução, gestão ou senha desses sistemas”, pontuou Ramagem, que também foi delegado da Polícia Federal (PF).
A operação “Vigilância Aproximada” da PF investiga o uso ilegal da ferramenta de espionagem FirstMile pela Abin. A suspeita é que, durante o governo Bolsonaro, a agência — que era chefiada por Ramagem, um amigo próximo da família Bolsonaro – tenha usado o software israelense para monitorar, ilegalmente, opositores.
Sobre o celular e computador encontrados no gabinete dele e que pertenciam à Abin, Ramagem afirmou que se tratam de equipamentos antigos, sem utilização.