Em um mundo cada vez mais acelerado e repleto de distrações, a prática do mindfulness surge como um recurso poderoso para cultivar presença e bem-estar. Originado das tradições meditativas orientais, o mindfulness, ou “atenção plena”, é definido como a capacidade de estar completamente presente e consciente do que se passa no momento atual, sem julgamentos ou distrações. Mais do que uma técnica de meditação, trata-se de um treinamento mental que nos ensina a lidar com pensamentos, emoções e experiências de forma consciente e aberta.
Depois de apresentar brevemente o que é o Mindfulness, pergunto a você, caro leitor e leitora, quando foi que paramos de enxergar o mundo a nossa volta a ponto de termos que treinar nossa presença no aqui e agora? No auge dos meus 36 anos, recordo que essa ideia de “atenção plena” nunca foi mencionada durante a minha adolescência, afinal de contas, vivíamos em um mundo onde tudo era o instante e nada mais. Ainda que minha família não tivesse muitos recursos financeiros, independentemente disso, não haviam muitas coisas que fossem capazes de roubar a nossa atenção.
Pode parecer um tanto quanto escatológico, mas sabíamos o número de pisos no banheiro e o caminho que as formigas faziam do chão ao teto. Hoje, ninguém mais vai ao banheiro sozinho, nós nunca estamos sozinhos. Aguardávamos os comerciais pacientemente até começar o filme na Tela Quente toda segunda-feira a noite e, quando conseguíamos, pegávamos um VHS na locadora que deveria ser devolvido rebobinado. Ai de quem esquecesse de rebobinar, a falta de atenção poderia custar uma multa de R$1,00 ou até o bloqueio de novos empréstimos. Hoje a gente para o filme no meio, sem medo de perder a parte mais importante e, de pouco se importar, acaba lendo comentários de um post aleatório em uma rede social enquanto a mocinha genérica fica com o jovem galã da temporada.
Não sei se fui eu que cresci e fiquei com a cabeça cheia a ponto de odiar o silêncio ou foi o mundo que ficou barulhento demais para a minha cabeça. Entre o silêncio e o barulho, eu me acomodo confortavelmente entre o silêncio ensurdecedor de uma mente inquieta, alimentada pelas redes sociais que apresentam conteúdos de 3 segundos e são escolhidos como em uma máquina de caça-níquel, tentando a sorte de achar ali algo que mereça minha atenção e me traga dopamina.
Vivemos em uma época em que os vídeos e áudios são reproduzidos no 2x, como se não tivéssemos tempo o suficiente para fazer o que precisamos e, na ânsia de fazer tudo, não fazemos nada. Como ter mindfulness em um mundo onde o relógio anda mais rápido dos que as pernas, onde a insônia tenta compensar a falta de produtividade após um dia cansativo e onde ficou impossível se esconder de todos, inclusive de si mesmo. A mentes se tornaram inquietas, as ruas barulhentas e os pássaros silenciados, só os cachorros que ainda parecem entender seu lugar no mundo, bradando seu ódio pelos seus semelhantes e todos os motoqueiros. Entretanto, até isso perturba a minha atenção.
Saiba, caro leitor e leitora, principalmente você que é jovem, que houve uma época em que no caminho do ônibus entre Londrina e Apucarana – que eu fazia todos os fins de semana -, que por duas horas, tudo que eu via eram as ruas, plantações e o céu, sem celular ou habilidade de ler em movimento. Se tivesse sorte, quando chovia podia ver o dançar de uma gota no vidro, fugindo na contramão do veículo. Respondi muitas perguntas sozinho e em silêncio ali, mas até hoje não sei para onde foram todas aquelas gotas e os sorrisos que eu fiz no vidro embaçado. De volta ao trabalho...