São Nicolau que me perdoe, mas minha filha não acredita mais nele ou em sua versão da Coca Cola. Queria saber em que momento ela simplesmente parou de acreditar, pois talvez a culpa seja também minha. Aos nove anos ela não acredita mais em Papai Noel, acredito que algum amiguinho da escola confirmou a suspeita dela. Mas não se preocupe, ela ainda ama o Natal.
Já venho ensinando o sentido religioso para meus filhos há anos, mas convenhamos que é uma luta injusta, pois em cada esquina há uma luz colorida nos lembrando que dezembro chegou e o décimo terceiro já vai embora. Seja pela minha forma rudimentar de ver a vida ou pela minha inquietude a perguntas desnecessárias, eu não consigo ver graça em datas comemorativas, pois elas me geram mais ansiedade do que satisfação – ou ao menos assim eu pensava. Tem uma idade que a gente realmente para de acreditar em Papai Noel, mas isso tem um efeito mais devastador.
Essa fase de desilusão vem na adolescência, pelo menos no meu caso. Como podemos comemorar falando de um velho gordo barbudo que traz presentes para crianças em um mundo onde muita gente pede dinheiro na esquina no meu caminho para a casa onde jantaremos uma farta ceia? Não sei ao certo o que a lista do bom velhinho leva em consideração, mas sei que tem muita gente ruim com presente bom enquanto inocentes não tem onde nem onde dormir. Sei que parece alarmista demais, ou até um pouco revoltado, mas enquanto tiver uma criança dormindo sem teto sobre sua cabeça, significa que falhamos enquanto sociedade.
Esse não é um texto político, ainda que tudo seja. Há dias recebi um pedido de ajuda de uma família para compor a cesta básica, pois seus filhos não teriam o que comer no outro dia, quem dirá no Natal. Quantos carrinhos e bonecas valem uma fome? Não quero uma revolução comunista, mas não te inquieta ter gente passando fome e em situação de vulnerabilidade enquanto seu filho escolhe o presente na internet? E que o entregador do tal presente, talvez faça um bico no dia de Natal como entregador de comida para os solitários, enquanto seus filhos estão em casa esperando apenas o pai?
Que há pessoas ruins no mundo, todos sabem, mas será que são apenas aquelas que chamamos de bandidos? Será mesmo que ninguém pode melhorar? Aos poucos a gente perde a fé na humanidade e todo mundo se torna um pouco vilão, não podemos confiar em ninguém e ninguém confia em nós. A gente parou de acreditar, mas não no bom velhinho, pois ele traz presentes. Ele simboliza tudo o que há de melhor, pelo menos daquilo que se pode comprar.
Não pensem que não comprarei presentes e que não gosto de receber. Eu acredito nos meus e quero que eles acreditem em mim, mas não só no Natal e não só pelos presentes, mas pelo que eles representam. Lembro com carinho das festas de Natal ao longo de minha vida, mas não lembro de um presente sequer. Minha memória está focada nas pessoas que fizeram desses momentos os mais importantes de todos. Acho que menti, pensando melhor, eu gosto do Natal.
Jesus, o grande homenageado nesta data, quando fez uma grande ceia chamou todo mundo para comer e deu significado a cada pedacinho ou gole de vinho. Esse mesmo Jesus, ganhou vários presentes quando nasceu, ouro, incenso que simbolizavam a realeza e a adoração. Já a mirra, que era usada em sepultamento ou para unção. A gente não fala do ouro depois, mas dos outros dois sim. E pensar nisso me faz acreditar que o Natal está muito errado nos últimos tempos, mas ainda há esperança, pois não basta ser cristão, devemos seguir a Cristo. Qual será o seu presente para o mundo neste Natal?