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Sobre ser o filho mais velho e o processo do amor

Da Redação

| Edição de 01 de agosto de 2024 | Atualizado em 01 de agosto de 2024

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Sabe aquele ditado de mãe: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”? Pois bem, todo texto que escrevo deveria vir acompanhado de um conselho também, “não faça o que eu digo, nem o que eu faço, mas se quiser fazer, estou aqui”. Em tempos como este que vivemos, ser mãe de três filhos é quase um crime, pelo menos segundo alguns. Isso não quer dizer que eu ouça críticas com frequência, mas o olhar de estranheza e curiosidade é sempre presente. A pergunta costumaz é: “como é que você dá conta?”, e para isso, tenho uma resposta: “não faço a mínima ideia, mas estou tentando”. 

Não aconselho ninguém a ter três filhos, mas também não desaconselho, mas adoro falar sobre isso. E se tudo tivesse acontecido como a garota de 14/15 anos sonhava, hoje seriam cinco filhos. Isso não quer dizer que eu sonhava em ser “dona de casa”, o que não é de nenhuma forma um demérito, mas sempre quis me realizar profissionalmente. Ainda bem que encontrei alguém que escolheu dividir esse sonho comigo e juntos conquistamos o mundo, um passo de cada vez, a começar pela casa bagunçada. 

Quando minha filha mais velha nasceu, o mundo era só dela. A única bebê em muitos anos dos dois lados da família, dizer que era mimada é pouco, perto do que realmente ocorria. Por curtos cinco anos, todas as fotos, vídeos, planos, brinquedos e roupinhas eram só dela. Foi então que chegou o Joãozinho e as coisas mudaram. Ainda que ela pedisse um irmão há muito tempo, ela teve que aprender a lidar com a mudança. 

O irmão mais velho tem que aprender a lidar com a ausência da atenção total, como estava acostumado até a chegada do rebento. Ainda que permeada de alegria, não podemos negar que é uma dor. É quase como aquela sensação estranha de estarmos grávidas e todos os olhares e cuidados serem sobre as nossas necessidades e, de repente, o mundo é do tamanho de uma caixa de sapato. Nós mães, não nos importamos, afinal, compartilhamos daquele momento, mas não podemos negar que há uma mudança repentina da atenção. E a criança mais velha?

O brinquedo não é mais só seu. Os presentes nem sempre são para ela. O colo sempre ocupado. Às vezes, um ralado tem que esperar uma cólica. Nenhum outro filho vai passar por isso, afinal, só ele teve a atenção total dos pais. O segundo já nasce sabendo que não é o único, pelo contrário, ele sabe que o amor é compartilhado, uma vez que recebe também do irmãozão. 

É preciso cuidado para equilibrar a balança, uma vez que dói em nós pais quando o filho tem que esperar para receber atenção que tanto precisa. A gente se cobra muito, tentando não errar com nenhum dos dois. Daí, no meu caso, vem a dona sorte e me manda outra jóia preciosa que nasceu com a diferença de um ano e quatro meses do irmão do meio. Confesso que essa veio de surpresa, mas foi, sem dúvidas, a melhor surpresa da minha vida, das nossas vidas. Eu nem sabia que precisava, mas hoje não consigo me imaginar sem. 

Amor talvez seja uma das poucas coisas que quanto mais se divide mais se tem. Então, a maior preocupação com o filho mais velho é fazê-lo entender que o mundo cresceu junto com a família, que as possibilidades do presente e do futuro são infinitas doravante. Ele vai aos poucos aprendendo a amar o irmão recém chegado, mas tem como recompensa da pequena ausência dos pais, o amor extra em forma de um pacotinho que pode chamar de seu irmão. E quando hora chegar, serão eles que estarão lado a lado, vivendo o sonho que não será mais meu, mas terá a minha centelha de vida, afinal, “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Salmo 133).