CIDADES

min de leitura - #

A pressa do mundo e a hora pra tudo

Adalton Vieira

| Edição de 23 de março de 2023 | Atualizado em 23 de março de 2023

Fique por dentro do que acontece em Apucarana, Arapongas e região, assine a Tribuna do Norte.

Em 2003, no dia 30 de agosto, um sábado ensolarado, no Sesc Aeroporto de Londrina, pouco antes das 11h... meu primeiro beijo. Para ser sincero foi extremamente estranho e sensacional, um misto de emoções. Ah, e eu fui beijado, sequer tomei a iniciativa o que torna a situação ainda mais extraordinária. Eu tinha 15 anos, o que para os meus amigos era demasiadamente tarde para tal ato. Mal sabiam, que o segundo beijo aconteceria no mesmo dia a noite, mas daí eu já era “experiente” o suficiente, sendo responsável pelo ato. 

A “demora” não se deu por falta de vontade, uma vez que sempre fui um jovem apaixonado pelo ato de se apaixonar, buscava um romance como eu assistia nos filmes, repleto de clichês que orgulhariam John Hughes. Em 2004 conheci aquela que seria a mulher da minha vida, depois de outras poucas experiências. Naquele ano, até as coisas se ajeitarem, vivia um romance quase utópico e, por fim, começamos a namorar. Enfim, tinha alcançado o que buscava e ainda venho construindo. Entrei na universidade aos 17 e me tornei doutor em História aos 34, virei professor aos 19 e coordenador aos 31 e por aí vai. Me tornei pai aos 27 anos e, essa sem dúvidas, foi a maior conquista, completada por outros dois pequenos. 

Na semana passada, veio à tona um triste caso de preconceito etário, também chamado de etarismo. Três jovens estudantes de uma universidade particular debochavam de uma nova estudante que aparentava ser mais velha e que, segundo elas, deveria estar aposentada. Acontece que a nova estudante se apresentava para uma segunda graduação, sendo já uma profissional. Entretanto, mesmo se fosse aquela sua primeira formação, fosse sua formatura do ensino médio ou início de qualquer curso técnico, a questão é: quando foi que definimos o momento exato para que todos os indivíduos executem a meta de estudar?

Fui professor temporário na Unespar (FECEA) entre 2016 e 2018, sendo que pude lecionar para diversos cursos, da Pedagogia ao Serviço Social, passando por Secretariado e Administração. Neste período, bem como já ocorreu no cursinho, tive alunos mais velhos do que eu. Posso dizer sem qualquer embargo que a idade não foi um problema para ninguém, seja a minha ou a deles. A maturidade que a vida proporciona sempre destacava o interesse e a boa vontade desses alunos, que com respeito mútuo pude me tornar amigo naquele momento. Alguns em sua segunda ou terceira graduação, outros na primeira, mas todos carregando a experiência como base para qualquer discussão. 

A pressa por concluir tudo em menor tempo, faz com que muitos alunos do ensino médio coloquem a faculdade como meta, esquecendo que é o meio e não o fim. Afinal, estudamos para que sermos profissionais incluídos em mundo que cobra caro dos indecisos e mal colocados, mas quando entendemos isso, já estamos cansados demais de tanto correr. Gosto de usar a figura do ratinho na roda da gaiola, que corre muito sem sair do lugar. Se não se sabe para onde vai, a tendência é correr em círculos. Ainda que a universidade seja um lugar de autoconhecimento e descobertas, é muito comum a frustração quando a meta era o vestibular e não a vida. 

Não existe idade para se descobrir profissionalmente, muito menos para aprender algo novo. Como dizia o poema “Filtro Solar”, famoso na voz de Pedro Bial, “As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida, alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem”. Cada um sabe a hora de começar, pausar ou terminar seus planos, o que não quer dizer que devam ser iguais aos dos outros. E para pessoas que pensam como as meninas, espero que nenhum dos meus leitores e leitoras, lembrem que sucesso não é só dinheiro, mas que muitos fizeram fortuna quando as possibilidades se mostraram depois de uma vida de lutas. Não importa como ou quando você começou, apenas aonde quer chegar. Não é a velocidade que define o quão longe você pode ir.

Beijei “tarde” para os meus amigos, mas sou o único com um relacionamento de quase vinte anos, nesse quesito eu venho vencendo a cada dia. E sobre os planos profissionais ainda não posso falar, pois estou só começando.