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Apucaranense viaja 12 mil km para encontrar parentes na Sibéria

Vanuza Borges

| Edição de 24 de dezembro de 2015 | Atualizado em 02 de dezembro de 2016

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O estudante apucaranense João Vítor Mendes Biscaia Popoff, 23 anos, viajou na última semana mais de 12 mil km para conhecer familiares na Rússia. O encontro foi promovido por um canal de televisão russo, que estava à procura do avô do apucaranense Vladimir Popoff, 81, que mora atualmente em Bauru (SP), e do tio-avô Pedro Popoff, 70, que reside em Londrina. Ele, o avô e o tio-avô viajaram para Moscou, capital russa, onde reencontram Ivan Popoff, primo do avô, que mora na Sibéria, e havia feito o pedido ao programa “Espere por Mim”, que promove reencontros de pessoas no mundo inteiro há vinte anos. O programa com a participação do apucaranense será exibido no especial de Natal da emissora.

Imagem ilustrativa da imagem Apucaranense viaja 12 mil km para encontrar parentes na Sibéria

Para João Vítor, o sonho de conhecer a Rússia, pátria dos seus antepassados, ao lado do avô Vladimir, é o presente de Natal que desejava realizar desde a infância. “Nós dois sempre sonhamos em ir para à Rússia e tivemos, agora, a oportunidade de conhecer Moscou juntos e ainda reencontrar parentes. Foi simplesmente emocionante. Recebi o meu presente de Natal antecipado”, brinca. Na Rússia, as gravações ocorreram durante um dia todo na semana passada e apresentaram Vladimir, Pedro e João Vítor a Ivan, sua esposa Nádia, e a Ana Nalogina, que também é prima dos brasileiros e, inclusive, morou no Brasil até os 12 anos. “Foi emocionante presenciar a história da minha família sendo passada no programa e o reencontro do meu avô”, revela.

Outro detalhe que chamou a atenção do apucaranense foram os traços físicos. “São muito parecidos. Os mesmos olhos e o mesmo formato do rosto”, detalha. Essa identificação com os traços familiares era algo que João Vítor já imaginava antes de viajar. “A minha família tem traços bem particulares, como o cabelo arrepiado e os olhos mais puxados. Quando a gente se conhecer, com certeza, vai ter alguém com alguma característica semelhante”, disse à nossa equipe três dias antes da viagem.

Para ele, essa identificação vai além de simples semelhanças. “Remete à origem da minha família, que é da Sibéria”, comenta. João Vítor avalia ainda que o reencontro, que parecia improvável acontecer depois de 81 anos e a 12 mil km, mostra que o elo familiar não se rompe com o tempo nem com a distância. “Aprendi que ter fé e esperança são coisas fundamentais na vida de quem espera por algo”, diz.

Juntos, em Moscou, eles ainda conheceram locais históricos como a Praça Vermelha e o Museu da Segunda Guerra Mundial. A temperatura durante os passeios estava a -7 °C. “Tudo é monumental”, define. Também apreciaram iguarias típicas como a sopa de beterrabas, conhecida como borsch, que foi preparada especialmente pela prima Ana. “O encontro, a beleza de Moscou e o privilégio de poder viver esse momento ao lado do meu avô é algo indescritível”, conta. João Vítor garante que pretende retornar ao país para conhecer outros locais e ir até a Sibéria visitar Ivan. “Antes quero aprender falar russo, porque quase ninguém fala inglês por lá”, planeja.

Durante a viagem, ele contou com a ajuda do avô, que ainda hoje fala russo, e da prima Ana, que entende português.

Programa da TV russa intermediou encontro

A internet foi a ferramenta que promoveu esse encontro de gerações. Ivan Popoff, que mora na Sibéria, na Rússia, enviou uma carta ao programa “Espere por Mim”, para reencontrar os primos Vladimir, 81, e Pedro Popoff, 70, que provavelmente estariam morando no Brasil. Os pais de Vladimir e Pedro fugiram das atrocidades do governo totalitário de Stalin. Camponeses, eles tiveram as terras tomadas. Não podiam comer nem o que produziam, por isso, decidiram fugir. Durante a viagem, nasceu Vladimir na Índia, que chegou ao Brasil com um ano de idade. A família russa desembarcou em Santos em 1935 e seguiu na primeira viagem do trem que faz o trajeto de Ourinhos a Londrina, onde se instalaram. Mais tarde Vladimir casou-se e foi morar no Estado de São Paulo.

Atualmente, ele mora em Bauru. E foi justamente um jornal de Bauru que descobriu a saga da família Popoff e resolveu publicar, inclusive, postando em sua página no Facebook. Com a publicação na internet, jornalistas da equipe do programa “Espere por Mim” localizaram os “Popoffs” no Brasil. Após uma longa conversa entre a apresentadora e Vladimir, acertaram os detalhes do reencontro, que começou a ser planejado há três meses.

O programa custeou todas as despesas de Vladimir, Pedro e Ivan. A estada e a passagem de João Vítor foram pagas pela mãe, Gisele Biscaia, que fez questão que o filho participasse desse momento único da família paterna. “Desde que li os manuscritos da minha avó Therezinha – que não participou do reencontro por causa da saúde debilitada – passei a querer conhecer este outro lado da minha família”, revela João Vítor.

Nos manuscritos, dona Therezinha, de 86, revela todos os detalhes relatados pela sogra Zinaida, que vai desde a fuga da Rússia, a viagem de navio até chegada ao Brasil. Os manuscritos vão virar um livro em breve.