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Com aumento de suicídios, serviço de apoio luta em defesa da vida

Fernando Klein

| Edição de 20 de abril de 2023 | Atualizado em 20 de abril de 2023
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Um serviço em funcionamento desde janeiro em Apucarana está tentando ajudar a reduzir um quadro preocupante em todo país: o aumento do número de suicídios. O Núcleo de Apoio à Vida de Apucarana (Naviap) funciona como base do Centro de Valorização da Vida (CVV), principal referência nacional quando o assunto é apoio emocional e prevenção desse tipo de ocorrência. 

O Naviap conta com 17 voluntários que se revezam no atendimento de telefonemas. Vindas de todo país, as ligações recebidas pelo número 188 são direcionadas pela central telefônica nacional do CVV. Eles se somam ao sistema das 9h às 13h. Alguns voluntários fazem plantões também em outros dias da semana. A meta é que Apucarana contribua com atendentes 24 horas por dia. Para isso, um novo chamamento de voluntários será feito a partir de 21 de maio. 

Os números mostram a importância desse trabalho. Segundo dados da 16ª Regional de Saúde (RS), de Apucarana, os suicídios aumentaram 81% nos 17 municípios de sua abrangência. Foram 38 casos no ano passado contra 21 no ano anterior. 

O Núcleo de Apoio à Vida de Apucarana foi idealizado pela empresária Aída Santos Assunção após a perda do marido Ademilson Gomes da Silva, vítima de um quadro de depressão. 

“A Naviap nasceu dessa dor, mas é uma dor para trazer vida e alegria para as pessoas. Nosso objetivo é falar de vida, que as pessoas estejam bem, estejam com saúde e venha falar dos seus problemas”, afirma Aída, que dedica essa iniciativa ao companheiro. 

Ela explica que o projeto conta com apoio de voluntários, que foram importantes na sua construção. Aída conta que muitas pessoas sofrem com problemas de depressão e precisam de ajuda. “Esse problema sempre existiu, mas a pandemia (de covid-19) deixou um rastro grande de tristeza, solidão, dor e depressão. Então, as pessoas precisam falar, precisam conversar e precisam, principalmente, ser ouvidas, para que possam entender a melhor forma de fazer as suas mudanças íntimas”, analisa. 

Pela metodologia da CVV, as ligações são gratuitas e sigilosas. As pessoas encontram do outro lado da linha voluntários que procuram conversar, orientar e tranquilizar as pessoas com sofrimentos emocionais. 

Voluntárias falam em aprendizado diário

Sônia Maria Andreatto, 65 anos, é uma das voluntárias do Núcleo de Apoio à Vida de Apucarana (Naviap). A apucaranense afirma que a experiência desses primeiros meses de trabalho representa um aprendizado. “A gente fica admirada de quanta dor tem no mundo e de quantas pessoas precisam de atenção e serem ouvidas”, afirma. 

A voluntária assinala que muitas pessoas não têm com quem conversar em casa ou na comunidade em que vive. “Com a gente, elas têm segurança para falar e desabafam mesmo, falam de coisas que estão guardando e que estão fazendo mal”, revela.

Nelsi Ribeiro da Costa de Souza, 65 anos, é outra voluntária da Naviap em Apucarana. Ela assinala que cada dia de trabalho é um aprendizado novo. “Nós imaginávamos que já tínhamos um certo conhecimento por conta do treinamento e da preparação, mas quando começaram os plantões a gente percebeu que tem muito a aprender ainda”, diz. Para Nelsi, o trabalho tem sido um “recomeço”. “É um ensino de vida, de enxergar o outro”, diz. 

Ela afirma que há muito sofrimento espalhado em vários cantos. Muitas vezes, são pessoas que enfrentam essas dificuldades em silêncio. “Nós não fazíamos ideia de o quanto as pessoas estão necessitadas de ajuda. Elas vivem no meio da comunidade e da própria família, mas ainda se sentem sozinhas, porque interiormente as dores existem e, às vezes, não têm com quem dividir esse sentimento”, completa.