A atual conjuntura econômica afetou seriamente o setor da construção civil. Dados da Secretaria Municipal de Obras de Apucarana apontam queda 30% no número de empreendimentos imobiliários no município. De janeiro a outubro deste ano, a prefeitura emitiu 700 alvarás para liberação de obra, uma média de 70 por mês. Em todo o ano passado, foram 1,2 mil documentos emitidos, média de 100 por mês. O secretário de Obras, engenheiro civil Herivelto Moreno, informa que o número de Certificações de Vistoria de conclusão da Obra (CVCO), o habite-se, também está em queda. O documento é liberado somente após a construção da obra e confirma se o imóvel foi construído de acordo com a legislação e está em condições de ser ocupado. Em 2014 foram 600 documentos e, neste ano, foram emitidos 463, até outubro.
Outro sinal de que a construção civil vai mal é que o setor tem demitido mais do que empregado (ler box). A falta de emprego, refletiu negativamente no valor da mão de obra que caiu 27% em Apucarana. Diante da desaceleração, a estimativa da Secretaria Municipal de Obra é que este ano feche com resultado piores do que o ano passado.
A avaliação do secretário de obras é que o setor está recuando, sobretudo, por causa da redução de investimentos por parte do Governo Federal. “Houve um grande incentivo nos últimos anos para o Programa Minha Casa, Minha Vida. Antes, em 2008 aprovava-se 700 alvarás por ano. A partir de 2009 chegou a 1.500 por ano. Agora o crédito ficou mais restrito, por influência da conjuntura econômica e o número de alvarás tende a diminuir”, analisa.
Para reverter a situação, o secretário acredita que o Governo Federal terá que mudar a política habitacional.
VENDAS RECUAM
A desaceleração no número formalizações alvarás para início de obras afetou significativamente as lojas de materiais para construção. Consultados pela Tribuna, gerentes concordam em relação a crise, no entanto, dividem opiniões sobre a expectativa de reação. Gerente de uma empresa de materiais para construção, Luiz Antônio Bovo, acredita que a população está em compasso de espera em virtude do problema econômico e, sobretudo, político.
“As perspectivas não são animadoras. Infelizmente o Brasil está parando e isto está refletindo em todos os setores, não só da construção civil”, analisa.
De acordo com Bovo, as vendas costumam aquecer no fim de ano, quando a população aplica o 13º salário em reformas. No entanto ele observou queda no fluxo de clientes.
“Geralmente outubro e novembro costumam ser meses ótimos para vendas. Mas percebi que o fluxo de pessoas está menor. Estou sentindo que as pessoas estão receosas esperando o que vai acontecer economicamente e politicamente. Muitos até têm dinheiro para investir, mas têm medo de perder o emprego e não ter como pagar as dívidas”, avalia.
Por outro lado, o gerente de loja Alexandre Grubisich, tem boas expectativas para as vendas de fim de ano.
“A venda de pisos e revestimentos sempre se mantém boa no fim de ano, porque as pessoas querem arrumar a casa para festas”, assinala.
Ele avalia que a empresa sentiu pouco efeitos da crise. “Nacionalmente houve recuo, não só no setor de construção. Mas, em Apucarana sentimos pouco, talvez por causa da região e do forte ramo de bonés e camisetas de Apucarana que influenciam na economia da cidade”, analisa.
Com mercado desaquecido, sobram pedreiros
Sem construção não existe a necessidade de comprar materiais e, consequentemente, não é preciso mão de obra operária. Dados do Caged mostram que a construção civil tem demitido mais que empregado na região. De janeiro a setembro deste ano foram contratados 834 empregados com carteira assinada e demitidos 1.219, uma diferença de 385 vagas a menos, em Apucarana. Na microrregião que engloba Arapongas, Califórnia, Cambira, Jandaia do Sul, Marilândia do Sul, Mauá da Serra, Novo Itacolomi e Sabáudia, foram 1.326 admissões contra 1.659 desligamentos, no período, uma variação negativa de 333.
Para quem trabalha sem carteira assinada a situação não é diferente. O pedreiro Pedro Cassimiro, 44 anos, afirma que nunca passou por situação parecida durante os 30 anos em que atua no ramo. Atualmente ele trabalha na construção de uma casa e diz que todos os dias aparecem pedreiros procurando serviço. “Antes nunca me faltou trabalho. Agora até para encontrar um bico está difícil. Na obra que estou trabalhando aparecem mais de 10 pessoas pedindo emprego todos os dias”, conta
De acordo com Cassimiro, no ano passado ele trabalhou na construção 4 casas e neste ano conseguiu apenas uma obra.
O irmão dele, pedreiro Márcio Cassimiro, 40 anos, reclama que além disso, a mão de obra está desvalorizada pela falta de serviço. “No ano passado cheguei a cobrar R$ 400 o metro quadrado. Nesse ano fui obrigado a pegar por R$ 290. Ou era isso ou nada”, comenta.
“Sempre tive bastante serviço e nunca fiquei com medo. Mas agora está ficando muito difícil porque não tem onde trabalhar”, reclama.