Desde que foi iniciada, em março de 2013, a construção da megaestrutura da indústria de papel e celulose Klabin em Ortigueira tem alimentado sonhos, gerado riqueza e provocado mudanças significativas na cidade de pouco mais de 25 mil habitantes. Seguindo os tratores e caminhões que invadiram a cidade, um verdadeiro batalhão de trabalhadores se instalou no município. Com eles, mais dinheiro e desenvolvimento chegaram à região, provocando também melhoria nos serviços públicos a fim de atender a crescente população.
Cosme Oliveira de Brito é um dos melhores exemplos de como o desenvolvimento rápido tem atingido a cidade. Proprietário de um restaurante na região central, ele servia em torno de 30 refeições diárias até 2013. Depois da obra, tudo mudou. “Hoje, entrego 400 marmitas por dia. Minha vida mudou muito. Investi R$ 60 mil em um veículo para fazer as entregas, além de outros equipamentos. Antes, eu tinha seis funcionários e agora já tenho 14, trabalhando em dois turnos. Para o ano que vem, devo ampliar o restaurante, investindo cerca de R$ 160 mil. A evolução em pouco tempo foi muito grande”, conta.
Já Ângelo Aparecido da Silva é dono de um pequeno mercado no bairro onde foram instalados os alojamentos para os operários da obra. Segundo ele, o movimento dobrou. “O comércio todo está ganhando com a fábrica. É claro que é preciso ter cautela, porque logo os operários vão embora e o número de trabalhadores na fábrica será menor. Mas é uma situação muito boa”, diz.
O setor imobiliário é um dos que mais cresceu no período. Proprietário de uma imobiliária da cidade, Alexandre Henrique de Lima não tem nenhum imóvel para alugar. Já a fila de clientes à procura de uma casa ou apartamento só aumenta: já são quase 40 pessoas esperando. “A valorização imediata após o anúncio da obra foi de 100%. A situação agora deu uma acalmada, mas os imóveis continuam cerca de 50% mais caros do que eram antes”, explica.
De acordo com a prefeita do município, Loudes Banach (PPS), a obra colocou Ortigueira, que antes era apenas conhecida por aspectos negativos, no mapa do Brasil.
“Muitas pessoas estão aproveitando esse bom momento de Ortigueira. Hoje você vê pessoas construindo, comprando veículos... É uma obra que muda muita coisa na vida da cidade”, avalia. Segundo estimativa da prefeitura, a soma dos salários pagos na cidade mais que dobrou após o início da obra.
Segundo Lourdes, a estrutura da cidade ainda carece de melhorias. No entanto, várias obras estão sendo realizadas para suprir essa demanda.
“Estamos fazendo três unidades básicas de saúde, um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), duas escolas com seis salas de aula cada, creches, entre outras obras, com apoio dos governos Estadual e Federal. Estamos ainda pleiteando uma companhia da Polícia Militar para a cidade, que precisa de um reforço na Segurança Pública”, diz.
Nova unidade da Klabin irá dobrar produtividade da empresa
A nova fábrica de celulose da Klabin impressiona pelos números. Em três anos, a fábrica de Ortigueira fará com que a empresa dobre de tamanho. A capacidade anual de produção, que hoje gira em torno de de 1,5 milhão de toneladas, passará a ser de 3 milhões. Cerca de 8,5 mil trabalhadores chegaram a estar no canteiro de obras no pico da construção. Quando a unidade começar a funcionar, serão preenchidos 1,4 mil postos de trabalho.
Cerca de 87% da obra está concluída. A inauguração deve acontecer até abril de 2016. O investimento total da obra chega a R$ 5,8 bilhões. A fábrica, que ocupa uma área equivalente a 200 campos de futebol, é cercada por uma imensa floresta de eucaliptos e pinus, árvores que serão utilizadas para alimentar a unidade. Ao todo, 26 mil caminhões de concreto foram utilizados na obra. A torre principal da caldeira possui 160 metros de altura, equivalente a um prédio de 55 andares e uma das maiores do mundo.
Cerca de 400 caminhões entram e saem por dia das instalações da fábrica. Para não comprometer o fluxo nas estradas, a Klabin construiu a sua própria rodovia. Foram 37 quilômetros de asfalto, além de um viaduto ligando a obra à BR-376 e um ramal ferroviário de 18 quilômetros para levar a produção ao porto de Paranaguá.
A fábrica ainda será autossustentável. Ela irá produzir, através dos rejeitos de produção, 270 megawatts de energia elétrica. Como a fábrica usará apenas 120 megawatts, o restante será injetado ao sistema energético existente. Essa sobra, de 150 megawatts, é capaz de abastecer uma cidade do tamanho de Londrina diariamente.
Cidade tem um dos piores IDHs do Paraná
Para entender a importância dessas transformações para Ortigueira, é preciso colocar o município em perspectiva. Com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,609 (2010), a cidade está entre as 10 piores do estado no quesito. De acordo com dados de 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), quase 80% da população não estudou o suficiente para sequer completar o Ensino Fundamental. Destes, 23% é analfabeto. O Mapa da Violência, divulgado em 2014 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), coloca Ortigueira como o 22º município com maior índice de homicídios do Paraná.
As dificuldades no município levaram a um grande êxodo, iniciado no início da década de 80. O município, que já teve mais de 50 mil habitantes, chegou a menos da metade disso em 2010. Hoje, pela primeira vez em 30 anos, a cidade tem registrado aumento na população. O município é o terceiro em extensão territorial do Paraná, com quase 5 mil quilômetros de estradas rurais. Essas dificuldades administrativas se refletiam na cidade: há alguns anos atrás, apenas as três principais ruas da cidade eram asfaltadas.
Klabin investe na infraestrutura da região
Uma obra de tão grande porte como a que está sendo feita em Ortigueira pela Klabin pode causar também impactos negativos na cidade. Para tentar diminuir esses impactos, a empresa foi obrigada a cumprir vários acordos com o poder público e com a sociedade. A ideia é que os pontos negativos da expansão da unidade de Telêmaco Borba, realizada há quase 10 anos, não sejam repetidos.
Em 2006 foi iniciada a obra na cidade vizinha de Telêmaco Borba, com duração de dois anos. O município observou um rápido aumento na criminalidade, queda nos índices sociais e especulação imobiliária. Para a unidade de Ortigueira, uma nova abordagem social foi implementada, parte exigida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), parte proposta pela própria empresa.
O trabalho começou com um levantamento de indicadores socioeconômicos da região a partir de dados oficiais. Simultaneamente, foram feitas 211 entrevistas com a população e reuniões nas cidades de Ortigueira, Imbaú e Telêmaco Borba para validar e complementar esse diagnóstico. Participaram representantes do governo do Estado, das prefeituras, vereadores, lideranças comunitárias, ONGs, instituições de ensino e religiosas, empresas, sindicatos, associações comerciais, dentre outros.
Novas rodadas de reuniões com as comunidades dos municípios de definiram as prioridades de aplicação dos investimentos. Para identificar os aportes previstos nos orçamentos de cada municipalidade e evitar sobreposição indesejada de recursos, a Klabin reuniu-se com as prefeituras envolvidas, além das regionais de Saúde e Educação, para apresentação e validação dos projetos sugeridos.
“Uma série de obras foram realizadas através da Klabin nesses municípios. A empresa tem dado suporte à infraestrutura, compra de maquinário, projetos sociais, enfim, diversas frentes. Nós seguimos um padrão internacional de sustentabilidade com o objetivo de garantir que esses municípios passem a atrair pessoas e novas oportunidades, tornando-se verdadeiros polos regionais”, explica Uilson Paiva, gerente de Sustentabilidade e Comunicação do Projeto Puma, que é como a unidade de Ortigueira é chamada.
Cerca de R$ 21 milhões para ações devem ser investidos pela empresa com o objetivo de melhorar a qualidade de vida no entorno da indústria. Em Ortigueira, as principais obras e projetos são a estruturação do Pronto Atendimento de Saúde, com a compra de equipamentos e mobiliário, a construção do Centro Cultural com auditório para 350 pessoas, a construção de uma escola de Ensino Fundamental e a reforma e ampliação de outras duas.
Divisão de ICMS gera desenvolvimento
Outro avanço significativo foi a repartição dos valores gerados pelo Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Proposto pela própria Klabin, a divisão foi definida antes mesmo de ser decidido o local que abrigaria o empreendimento. Um convênio foi assinado entre os 12 principais municípios fornecedores de matéria prima para o Projeto Puma, prevendo que 50% do imposto seria destinado ao município onde a fábrica seria instalada. O restante seria distribuído às outras 11 cidades, proporcionalmente.
“Com essa repartição do imposto, será possível gerar desenvolvimento a nível regional. Assim, o dinheiro fica na região, aumentando a arrecadação dos municípios e se revertendo em desenvolvimento para o comércio, indústria e serviços, além da infraestrutura das cidades”, destaca Uilson Paiva, gerente de Sustentabilidade e Comunicação do Projeto Puma.
Prioridade de contratação regional
Com início de produção previsto para março de 2016, a nova fábrica de celulose da Klabin já está mudando a perspectiva de vida de muitos jovens da região. Mais de 140 estudantes de Ortigueira, Imbaú e Telêmaco Borba já foram contratados pela empresa para atuar na operação da nova unidade. Eles fazem parte de um extenso grupo de trabalhadores da região que passaram por cursos de capacitação profissional gratuitos, custeados pela empresa.
Recém-formados pelo Curso Técnico em Celulose e Papel, promovido em parceria com a Faculdade de Telêmaco Borba (Fateb), esses trabalhadores são apenas uma pequena parcela do efetivo contratado na região. “O foco, desde o início, foi priorizar a contratação de moradores das proximidades, através da capacitação profissional. Assumimos esse compromisso com a comunidade. Nas duas primeiras fases da obra (terraplanagem e construção civil), 85% dos trabalhadores eram do Paraná. Hoje, com a obra em fase final, esse índice é de 50%. Desses, mais da metade são de Ortigueira, Telêmaco Borba e Imbaú”, ressalta Uilson Paiva, gerente de Sustentabilidade e Comunicação do Projeto Puma. Quando a fábrica iniciar as operações, essa tendência deverá ser mantida.
Segundo ele, as vantagens são inúmeras. “Os custos para trazer mão-de-obra de longe são maiores. Além disso, elimina o período de adaptação do trabalhador a uma região com clima, alimentação e costumes diferentes”, diz. A Klabin ainda construiu quatro torres, totalizando 96 apartamentos, para abrigar os seus futuros funcionários.
Antônio Batista Neto trabalhava na zona rural de Ortigueira, concluiu o Curso Técnico em Celulose e Papel e agora vai trabalhar numa das fábricas mais modernas do mundo. “Até antes de começar o curso, não imaginava pisar dentro de uma indústria, mas fui pegando gosto pela coisa. Aprendendo mais e mais”, destaca.