As três mulheres que foram eleitas vereadoras em Marilândia do Sul estão encarando o desafio de fortalecer a rede local de proteção às mulheres. A Câmara Municipal tem uma Procuradoria da Mulher, que pretende “abrir as portas” do legislativo local para funcionar como mais um ponto de apoio no atendimento às mulheres que estão em situação de risco, sejam elas adultas, adolescentes ou crianças.
Na legislatura passada, foram eleitas as vereadoras Cradenil Shibao e Tatiane Martinez. Na atual legislatura, além das duas reeleitas, a bancada feminina foi ampliada, com a eleição da vereadora Anderleia Bueno.
A vereadora e procuradora da mulher na Câmara, Cradenil Shibao (PTB), diz, no entanto, que esse desafio não tem nada de simples. Ela destaca que, antes mesmo de poder ajudar efetivamente as mulheres, a bancada local precisa lidar com a violência política. E ela é cuidadosa até para selecionar “palavras adequadas” para contar o que se passa. “Para mim está sendo um desafio, na verdade”, conta a vereadora. “Até nos gestos dos homens, como caras e bocas, eles nos censuram, nos discriminam”, revela. E dá exemplo: segundo ela, tem sido muito comum as mulheres da Câmara terem suas falas interrompidas ou mesmo minimizadas pelos pares, homens. “É comum estarmos falando algo sobre um tema e alguém nos interromper para dizer algo como se aquilo que falamos não tivesse tanta importância”, explica.
Independente dessas questões, e das lutas diárias, a vereadora garante que vai seguir com o programa da Procuradoria, criando no Legislativo um canal de enfrentamento e de denúncias contra as várias formas de violência enfrentadas pelas mulheres na sociedade. As três vereadoras já fizeram cursos e a cada dia ampliam os conhecimentos sobre o tema para fortalecer a rede local de proteção. “Nosso objetivo nessa gestão é nos colocar à disposição para poder colaborar na sociedade com um trabalho que faça a diferença”, afirma.
A Procuradoria da Mulher na Câmara de Marilândia do Sul foi instalada ainda em 2019, mesmo ano em que o órgão foi criado na Assembleia Legislativa do Estado. No entanto, a Procuradoria só passou mesmo a existir, na prática, em 2021, com a nomeação da Procuradora da Mulher. E se há alguma dúvida sobre a existência da violência política contra as mulheres, basta ver a participação delas nas mesas diretoras das casas legislativas. Nenhuma mulher participa da mesa diretora da Alep, o mesmo ocorre em Marilândia, mesmo em se tratando de uma bancada feminina local que representa um terço dos vereadores. A Câmara tem 9 vereadores, sendo três mulheres. A mesa diretora tem 4 cargos (presidente, vice, 1º. Secretário e 2º. Secretário), ocupados exclusivamente por homens. “Os desafios são muitos”, diz Cradenil Shibao.
Discriminação continua sendo algo comum na sociedade
A vereadora Cradenil Shibao deixa claro que a discriminação contra mulheres ocorre em Marilândia do Sul. “Eu vejo isso. Às vezes tento ignorar, até para não tumultuar. A ideia é, aos poucos, ir reeducando nossos colegas, a sociedade, e ocupar nossos espaços”, diz Cradenil, tentando explicar isso de forma a “não ofender ninguém”. Para ela, se for para levar na base do “ferro e fogo”, perde-se facilmente a razão.
Como a luta é constante e desigual, Cradenil também afirma que, às vezes, tem vontade de desistir. “É muito confrontante, sabe”, desabafa. “Nós somos imediatistas, queremos que as coisas aconteçam rapidamente. Mas não é assim que flui. É um passo por vez. E às vezes, avançar demora muito”, comenta a vereadora.
Apesar do sentimento e dos desabafos, ela garante que a bancada não afrouxa os propósitos. “Estamos ampliando nossos conhecimentos, nossos repertórios e ferramentas. E vamos trabalhar para favorecer as mulheres em geral, em todos os espaços sociais”, afirma. Cradenil Shibao.
A procuradoria da Mulher na Câmara de Marilândia, explica a vereadora Cradenil Shibao, zela pela defesa dos direitos da mulher, recebendo, examinando e encaminhando aos órgãos competentes as denúncias de violência e discriminação contra a mulher, bem como também deve sugerir, fiscalizar e acompanhar a execução de programas do governo municipal que visem a promoção da igualdade de gênero, assim como a implementação de campanhas educativas e anti discriminatórias de âmbito regional ou nacional, entre outras questões.
Segundo a vereadora, as portas da Câmara de Marilândia estão abertas às mulheres para denúncias de violência e proposições de políticas públicas que fortaleçam a rede protetora às mulheres em situação de risco.