Outro dia, um leitor me escreveu com a pergunta direta: “Devo me aposentar?” Respondi com igual franqueza: só se aposenta de verdade quem passou a vida fazendo o que nunca amou.
É comum ouvir gente contar os dias para “parar de vez”, como se a vida só começasse depois do ponto final no trabalho. Estranho, não? Por que alguém passaria décadas num ofício maçante, sonhando com o “oásis da inatividade”?
A pergunta certa não é “quando parar?”, mas “por que faço o que faço?” Se há propósito, ninguém corre para o fim. Pelo contrário: deseja-se continuar. Não por teimosia ou vaidade, mas por realização genuína.
Aristóteles chamava isso de vida virtuosa — quando nossas ações se alinham com o que somos de verdade. E Viktor Frankl levou essa ideia ao limite. Sobrevivente de Auschwitz, ele escreveu: “Quem tem um ‘porquê’ enfrenta qualquer ‘como’.” Frankl percebeu que a dor sem sentido destrói, mas a dor com significado fortalece. Segundo ele, o ser humano não está atrás de conforto — está atrás de sentido. E sentido não se aposenta.
Há momentos em que a profissão perde o brilho. É natural. Quando o ofício já não veste mais a alma, troque de função, reinvente-se, busque novos papéis. Mas jamais se aposente da sua capacidade de servir, aprender, cuidar e influenciar.
Descansar é necessário. Estagnar, não.
A pior aposentadoria é a tentativa de compensar, com lazer, uma vida sem entusiasmo. A melhor é deixar para trás o que nunca fez sentido e seguir inteiro no que importa.
Viver bem é manter-se desperto, consciente. É continuar interessado, útil, lúcido — e alegre. Isto, sim, é o verdadeiro prêmio de uma vida bem vivida.
E essa recompensa, caro leitor, não tem data para expirar.