GUILHERME BOMBA

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O capítulo esquecido do Pequeno Príncipe: sobre cuidar de si antes de salvar a rosa

Da Redação

| Edição de 11 de setembro de 2025 | Atualizado em 11 de setembro de 2025

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O pequeno príncipe caminhava sobre a areia clara.

As estrelas, que antes lhe riam, agora pareciam observá-lo em silêncio.

Foi então que encontrou um homem sentado numa pedra.

Ele sorria muito. Mas seu sorriso era pesado, como se escondesse uma dor.

— Bom dia — disse o pequeno príncipe.

— Bom dia — respondeu o homem. — Preciso que você fique comigo. Sem você, não consigo viver.

O pequeno príncipe abaixou a cabeça, triste.

Ele se lembrava da rosa, que também pedia cuidados. Mas a rosa pedia por amor, não por medo.

E se lembrava da raposa, que lhe ensinara a responsabilidade. Mas responsabilidade não era prisão.

— Se você me deixar — continuou o homem — direi que é culpa sua. Minha tristeza será sua responsabilidade.

O pequeno príncipe pensou.

Ele conhecia planetas onde havia reis, vaidosos, beberrões. Mas nunca tinha encontrado alguém que usasse sua dor como corrente.

E o pequeno príncipe disse:

— Cada um deve cuidar do próprio coração. Só assim pode cuidar dos outros. Se eu não cuidar de mim, não poderei cuidar da rosa. Nem da raposa. Nem de você.

O homem chorou.

Mas o pequeno príncipe não se moveu.

Sabia que a lágrima sincera cura.

E que a lágrima disfarçada aprisiona.

Lembrou-se então da serpente, que um dia se apresentou como solução rápida, um atalho para a eternidade. Ele a aceitara porque estava inseguro, sozinho, frágil.

Agora percebia: todo veneno se disfarça de resposta. Todo atalho exige uma alma cansada.

Naquele instante, o pequeno príncipe entendeu algo novo: há amores que se oferecem como água fresca, e há outros que se impõem como sede sem fim.

O primeiro nos fortalece.

O segundo nos enfraquece.

Ele olhou para o céu estrelado e sorriu:

— Não é amor o que nasce da chantagem. Não é amizade o que exige algemas. A verdadeira ligação é aquela em que cada um se responsabiliza pelo próprio mundo.

E continuou seu caminho.

Mais leve.

Mais inteiro.

Sabendo que cuidar de si é o único modo de não perder a rosa, a raposa e as estrelas.

E, se você me permite, leitor:

não é preciso ser puro e ingênuo como o pequeno príncipe.

Mas, por favor, também não tente ser tão astuto quanto Maquiavel.

A vida não pede santos nem príncipes — pede gente que saiba rir, chorar, e, sobretudo, não cair na tentação de manipular ou ser manipulado.