ROGÉRIO RIBEIRO

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Descompassado e descontente

Diagramação Tribuna

| Edição de 26 de setembro de 2023 | Atualizado em 26 de setembro de 2023

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Muitos propagam a visão de que o Brasil se tornou um oásis econômico, alegando que os desafios persistiam apenas até dezembro do ano anterior e que, agora, alcançamos a redenção, com todos os problemas sendo ou já tendo sido solucionados. Contudo, há um grupo mais crítico que argumenta que o governo atual maneja uma caneta presidencial cuja tinta parece ter secado, e cujas engrenagens estatais operam à semelhança de um relógio velho e parado. Nove meses se desenrolaram desde que a nova gestão tomou as rédeas da nação, porém, curiosamente, a única mudança palpável parece ser a capacidade de converter otimismo em desesperança.

Certo dia, ao me submeter a mais um corte de cabelo – cujo preço, por sinal, eleva-se como em um leilão invertido – escutei de outro barbeiro um desabafo ácido a respeito da gestão atual. Em um diálogo subsequente, agora com empresários locais, ouvi mais críticas ao governo, acompanhadas de relatos de retração de até 50% no faturamento das empresas.

No campo, os produtores de grãos também não expressam contentamento com a conjuntura econômica vigente. Lamentam uma crise que aparenta ter germinado mais rapidamente que vegetação em terreno abandonado e, evidentemente, os dedos se voltam para o governo – essa entidade onipresente e, aparentemente, onipotente em resolver adversidades, conforme as narrativas expostas.

Contudo, concedam-me um toque de cinismo, pois, como seria possível um governo recém-instaurado, com meros nove meses de atuação, realizar a façanha de engendrar um cenário catastrófico? Possivelmente, subestimamos a habilidade da nossa liderança em ser eficazmente ineficaz. O fato é que o panorama atual já vinha sendo delineado há dois anos. Desde 2021, antevia-se que 2023 não seria um ano de bonança e prosperidade. Déficit, inflação, desemprego e um PIB que avança a passos mais lentos que uma tartaruga num dia letárgico. Sabíamos a direção que estávamos tomando, cientes de que rumávamos para um labirinto obscuro, e, ainda assim, nos surpreendemos ao nos depararmos com um beco sem saída.

Agora, meus caros, com um baixo crescimento no horizonte e desafios inflacionários e de desemprego permeando nossa rotina, somos testemunhas de um cenário de inércia governamental. Nosso ilustre presidente, pelo visto, ainda não encontrou espaço na agenda para se confrontar com a nossa realidade econômica e discutir nossas adversidades.

Frente ao tabuleiro econômico global, onde Estados Unidos, China e até nossos vizinhos enfrentam suas próprias turbulências, nosso país dança descompassadamente, como se aguardasse a solução mágica que emergirá das profundezas da inação. Até que esse momento chegue, vejo-me compelido a desembolsar mais pelo meu corte de cabelo e a observar a ironia de um governo que, em sua imobilidade, revela-se extraordinariamente eficiente em cultivar insatisfação.

Faz-se imprescindível questionar a propensão à simplificação que leva à atribuição exclusiva da crise ao governo atual. Este, embora detenha sua parcela de responsabilidade, sobretudo pela inércia demonstrada, não pode ser tomado como único ator em um cenário já previamente conturbado. É imperativo reconhecer que as raízes dos desafios econômicos são multifacetadas e antecedem a gestão em curso. No entanto, isso não exime o governo de sua crucial responsabilidade de agir, de se posicionar frente aos obstáculos e de buscar soluções inovadoras. Não podemos nos permitir inação, pois corremos o risco de aumentar ainda mais a insatisfação popular no cenário nacional.