ROGÉRIO RIBEIRO

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Ladeira abaixo

Da Redação

| Edição de 10 de maio de 2022 | Atualizado em 10 de maio de 2022
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A cada semana que passa se torna mais evidente o cenário de deterioração dos indicadores sociais no mundo e no Brasil, de forma particular. O grande vilão no curto prazo está sendo a inflação que está arroxando os orçamentos familiares e gerando uma mobilidade social negativa. A fome volta ser uma preocupação de muitas economias que achavam que já estavam livres desta mazela social.

As pressões inflacionárias estão ocorrendo no mundo todo e são geradas pela recuperação da economia global após a pandemia. Com a pandemia o nível de atividade caiu gerando forte retração nas economias pelo mundo e aumentando o desemprego. A retomada ocorreu com uma forte pressão de demanda que não foi acompanhada pela oferta. O resultado disto foi um aumento generalizados nos preços internacionais dos bens e serviços e, em especial, das commodities.

Tal cenário já estava preocupando quando surgem dois novos eventos externos para perturbar a situação que já não estava boa: a guerra na Ucrânia e uma nova onda de Covid-19 na China. A primeira provocou uma necessária reorganização das cadeias produtivas globais para substituir a produção dos países envolvidos no conflito. Com isto, os preços aumentaram um pouco mais. Já o segundo evento ocasiona uma maior demora no processo de normalização de oferta de insumos industriais que estão prejudicando as respectivas ofertas de bens finais. Mais uma fonte de aumento de preços.

No Brasil a inflação deverá fechar o ano de 2022 bem acima da meta e muito próximo do mesmo nível de inflação do ano de 2021. Este cenário dificilmente será revertido e poderá ainda ser agravado com uma política econômica contracionista dos Estados Unidos e dos países da Zona do Euro. Esta possível política contracionista poderá reverter o destino do investimento estrangeiro para outros mercados e desacelerar o crescimento de nossa economia.

Muito pouco ou quase nada está sendo feito para abrandar o aumento do custo de vida para os brasileiros. Com a nova fase de aumento dos juros aumentaram nossas exportações e mais investimento direto entrou no país, com isto a taxa de câmbio havia dado uma trégua. Só que o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos pode reverter este processo e a nossa moeda pode voltar a se desvalorizar. Isto poderá gerar impactos de alto nos preços internos.

A população não tem muito que fazer para se proteger destes problemas. Quem deveria fazer algo são nossas autoridades econômicas e políticas. O custo da cesta básica de alimentos está subindo todo mês. Em Apucarana o custo médio da cesta básica já foi reajustado em 22,7% nos quatro primeiros meses do ano. Neste período a inflação não atingiu 5%, o que demonstra que a população mais pobre está sofrendo muito com o aumento dos preços e com a inércia de nossas autoridades governamentais.

Se o salário mínimo foi reajustado em R$ 112, a cesta básica de alimentos já aumentou R$ 129. Portanto, a qualidade de vida dos trabalhadores assalariados e dos micros e pequenos empreendedores está “ladeira abaixo”.

E o que esperar para o resto do ano de 2022 e para os próximos anos? As simulações não são muito favoráveis: o crescimento médio anual do PIB para os próximos oito anos gira em torno de 3,2%, no cenário otimista, a 1,2% no cenário pessimista. No cenário base a média fica em 2% ao ano. É muito pouco se considerarmos o volume de pessoas desempregadas e a quantidade de pessoas que ingressarão em idade economicamente ativa neste período. Temos muito a ser feito e não estamos encontrando quem se proponha a fazer.