O crescimento de 0,4% da economia brasileira no segundo trimestre, em comparação ao primeiro, foi impulsionado principalmente pelo consumo das famílias, que registrou uma expansão de 0,5% no período.
O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (2). No acumulado de 12 meses, a alta é de 3,2%.
Ótica do Consumo
Uma das formas de calcular o desempenho do PIB é pela ótica do consumo, que considera o comportamento do consumo das famílias, do governo, além de importações, exportações e Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa os investimentos.
Na transição do primeiro para o segundo trimestre deste ano, essas demandas apresentaram os seguintes desempenhos:
- Consumo das famílias: +0,5%
- Consumo do governo: -0,6%
- Investimento: -2,2%
- Exportação: +0,7%
- Importação: -2,9%
O avanço do consumo das famílias é o principal motor, já que esse componente da demanda representa 63,8% do PIB. O outro componente com expansão, a exportação, responde por 18% do PIB.
Juros e Política Monetária
O resultado de 0,4% do PIB, embora positivo, representa uma desaceleração, já que o primeiro trimestre havia crescido 1,3% em relação ao quarto trimestre de 2024.
Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a principal razão para a redução no ritmo de crescimento é a política monetária restritiva do Banco Central, que utiliza juros altos para controlar a inflação.
Atualmente, a taxa básica de juros, a Selic, está em 15% ao ano, o patamar mais alto desde julho de 2006. Juros elevados desestimulam o consumo e o investimento, esfriando a economia e reduzindo a demanda por bens e serviços, o que ajuda a conter a inflação.
No entanto, Palis observa que a economia brasileira tem mostrado resiliência, com o consumo das famílias atingindo um patamar recorde no segundo trimestre. O mercado de trabalho e a política fiscal expansionista são apontados como os principais impulsionadores.
“O dinamismo no mercado de trabalho continua, com o crescimento dos salários reais recebidos pelas famílias e programas de transferência de renda, com a política fiscal ajudando”, explica.
O dado mais recente de emprego do IBGE indica que o Brasil atingiu a taxa de desocupação de 5,8%, a menor já registrada na série histórica iniciada em 2012. O levantamento também mostra um recorde no salário do trabalhador, com rendimento médio mensal de R$ 3.477.
O principal programa de transferência de renda do governo federal é o Bolsa Família, com valor médio do benefício em R$ 671,54, alcançando 19,19 milhões de famílias.
Mesmo com a Selic alta, que impacta outras operações de crédito, Palis afirma que o crédito para as famílias “continua crescendo bem”.
“Observamos uma desaceleração importante no saldo das operações de crédito para pessoas jurídicas, mas não para pessoas físicas”, avalia.
Impacto do Tarifaço
O comportamento das exportações brasileiras no segundo trimestre não reflete o tarifaço imposto pelo presidente americano, Donald Trump, às vendas brasileiras para os Estados Unidos, já que as tarifas começaram a vigorar apenas em agosto.
Palis acredita que os efeitos das tarifas serão percebidos a partir dos dados do terceiro trimestre, mas ressalta que as exportações não têm o mesmo peso que o consumo das famílias no PIB. Além disso, ela relativiza o papel do comércio exterior na economia brasileira, especialmente com os Estados Unidos.
“A economia é muito mais ligada ao consumo das famílias, não é tão aberta assim. O comportamento do consumo das famílias determina bastante o da economia como um todo”, diz.
“Já tem um tempo que os Estados Unidos não são mais o nosso principal parceiro comercial”, lembra.
O principal parceiro comercial do Brasil é a China. De 2001 a 2024, a participação americana no total de exportações brasileiras caiu de 24,4% para 12,2%, ou seja, caiu praticamente à metade, de acordo com o Indicador de Comércio Exterior (Icomex), estudo mensal do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o tarifaço de Trump afeta 3,3% das exportações brasileiras.
Com informações da Agência Brasil