ECONOMIA

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Em 10 anos, 60,7% dos beneficiários conseguiram deixar o Bolsa Família

(via Agência Brasil)

| Edição de 05 de dezembro de 2025 | Atualizado em 05 de dezembro de 2025

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Em 2014, o programa Bolsa Família registrava que, de cada dez beneficiários, seis conseguiram se desligar do auxílio ao longo dos dez anos seguintes. Essa informação é parte do estudo Filhos do Bolsa Família, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro.

O levantamento, realizado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), revelou que a maior taxa de saída do programa foi observada entre os adolescentes que tinham entre 15 e 17 anos em 2014.

Enquanto a média geral de saída dos beneficiários foi de 60,68%, entre os jovens de 15 a 17 anos, essa proporção alcançou 71,25%. Ou seja, de cada dez jovens, sete deixaram de depender da transferência de renda nos dez anos seguintes.

A faixa etária de 11 a 14 anos também apresentou uma taxa significativa de saída, com 68,80%. Já entre as crianças de até 4 anos, a proporção de desligamento do programa em uma década foi de 41,26%.

Mobilidade social

O professor de economia da FGV, Valdemar Rodrigues de Pinho Neto, autor do estudo, destaca que o Bolsa Família não apenas alivia os efeitos imediatos da pobreza, mas também promove a mobilidade social. Ele ressalta a importância das condicionalidades de saúde e educação, como a exigência de manter as crianças na escola, garantir a vacinação em dia e realizar exames pré-natais.

“A transferência de renda, aliada ao fomento do capital humano desses jovens, visa proporcionar melhores oportunidades de trabalho e empreendedorismo no futuro, permitindo que eles acessem o setor produtivo e melhorem suas condições socioeconômicas”, explica.

O pesquisador enfatiza que a saída dos beneficiários do Bolsa Família é crucial para a continuidade da política social, especialmente em um contexto de recursos governamentais limitados. Ele observa que muitos dos jovens que deixaram o programa não ficaram desprotegidos. Entre aqueles que tinham 15 a 17 anos em 2014, 28,4% possuíam emprego formal uma década depois, e mais da metade (52,67%) havia saído do Cadastro Único (CadÚnico), a porta de entrada para programas sociais do governo.

Situação ao redor

A pesquisa também concluiu que o ambiente socioeconômico dos beneficiários influenciou a taxa de saída do programa entre 2014 e 2025. Algumas das constatações incluem:

  • Em áreas urbanas, a taxa de saída de jovens de 6 a 17 anos (67%) foi superior à das regiões rurais (55%);
  • Jovens em famílias onde a pessoa de referência tem emprego formal apresentaram uma taxa de saída (79,40%) maior do que aqueles cujos responsáveis trabalham sem carteira (57,51%) ou por conta própria (65,54%);
  • Famílias em que a pessoa de referência possui ensino médio completo tiveram uma taxa de saída (70%) superior àquelas com escolaridade apenas fundamental (65,31%).

“Pais com maior acesso à educação conseguem romper o ciclo de pobreza intergeracional. Assim, filhos de pais mais educados também conseguem sair do programa”, avalia Neto.

Difícil estudar com fome

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, celebrou os números de saída do programa, afirmando que “o Bolsa Família não é um fim, mas um começo”.

“É muito difícil avançar sem eliminar a fome. É complicado estudar ou trabalhar sem antes resolver a questão da fome. Esse passo justifica a inclusão dos mais pobres no Orçamento”, afirma.

Tendência recente

O estudo da FGV também analisou dados do Novo Bolsa Família, a versão atual do programa iniciada em 2023. Entre os beneficiários observados no início de 2023, cerca de um terço (31,25%) já não estava mais no programa em outubro de 2025. Entre os jovens de 15 a 17 anos, a saída foi ainda mais expressiva nos três anos: 42,59%.

Durante esse período, a entrada mensal de famílias no programa (359 mil em média) foi inferior à média de saída, que foi de 447 mil.

“Isso já oferece uma ideia do que podemos esperar na próxima década”, aponta Valdemar Pinho Neto. “Assim como a segunda geração teve uma taxa de saída melhor que a primeira, espera-se que a terceira geração supere a segunda.”

A pesquisa foi divulgada na mesma semana em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que mais de 8,6 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza em 2024, reduzindo a proporção da população pobre para 23,1%, a menor desde 2012, quando a série histórica começou.

O aquecimento do mercado de trabalho e os programas sociais foram apontados como fatores para a redução no número de pobres.

Mecanismo de autonomia

Valdemar Pinho Neto destacou duas características importantes da nova versão do programa. Uma delas é a regra de proteção, que não retira automaticamente do programa a pessoa que conseguiu emprego, permitindo um período de adaptação e garantindo que ela possa retornar ao programa sem fila de espera, caso perca o emprego.

A outra é o Programa Acredita, que oferece microcrédito para apoiar empreendedores de baixa renda.

“A ideia é que a transição do Bolsa Família para o mercado de trabalho seja mais suave, evitando decisões drásticas na vida dos beneficiários”, salienta o professor.

Bolsa Família

Para ser beneficiário do Bolsa Família, a renda mensal familiar deve ser de até R$ 218 por pessoa. O benefício base é de R$ 600, podendo ser aumentado em casos de crianças e grávidas na família. O valor médio do benefício é de R$ 683,28. Em novembro, o programa atendia 18,65 milhões de famílias, com um custo de R$ 12,69 bilhões.



Com informações da Agência Brasil