A produção industrial no Brasil apresentou uma retração de 0,5% em maio em comparação a abril, marcando o segundo mês consecutivo de queda, após um recuo de 0,2% de março para abril. Esse resultado foi influenciado negativamente pelo setor de veículos, além do impacto da elevação das taxas de juros no país.
Em contrapartida, quando comparado a maio de 2024, o setor industrial registrou um crescimento de 3,3%. No acumulado dos últimos 12 meses, a produção industrial cresceu 2,8%, posicionando a indústria brasileira 2,1% acima do nível pré-pandemia de covid-19, em fevereiro de 2020, embora ainda esteja 15% abaixo do pico da produção industrial de maio de 2011.
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Os dados são oriundos da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Rio de Janeiro.
Setores que impactaram negativamente a produção industrial
Na transição de abril para maio, 13 das 25 atividades pesquisadas registraram queda, com destaque negativo para a produção de veículos. Os setores que mais contribuíram para a queda foram:
- Veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%)
- Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%)
- Produtos alimentícios (-0,8%)
- Produtos de metal (-2,0%)
- Bebidas (-1,8%)
- Confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,7%)
- Móveis (-2,6%)
Por outro lado, a indústria extrativa foi a que mais contribuiu positivamente, com um crescimento de 0,8%.
Impacto dos juros elevados
De acordo com André Macedo, gerente da pesquisa, os resultados de abril e maio refletem uma correção após o crescimento mais acentuado nos três primeiros meses do ano, que acumulou 1,5% em comparação a dezembro de 2024. Com as duas quedas consecutivas, o crescimento acumulado foi reduzido para 0,7%.
Macedo explica que a retração na indústria nos meses recentes está associada aos aumentos das taxas de juros no país desde setembro. "Isso impacta o setor industrial ao encarecer o crédito. As famílias tendem a adiar o consumo, e as empresas podem postergar investimentos", destaca.
Macedo observa que esse cenário de contração contrasta com outros indicadores econômicos positivos, como o mercado de trabalho favorável, baixa taxa de desocupação, recorde no rendimento do trabalhador e melhora nos índices inflacionários.
Desde setembro do ano anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem mantido uma trajetória de alta na taxa básica de juros, a Selic, para controlar a inflação, que está acima da meta governamental. A inflação oficial acumula 5,32% em doze meses, superando a meta de 4,5%.
Os juros elevados, atualmente em 15% ao ano, encarecem o crédito, desestimulando o consumo e os investimentos produtivos, o que tende a frear a inflação, mas também a esfriar a economia.
Conforme o Banco Central, o impacto da taxa Selic na inflação leva de seis a nove meses para se tornar significativo.
Desempenho das grandes categorias econômicas
Entre as quatro grandes categorias econômicas analisadas pela Pesquisa Industrial Mensal, três apresentaram resultados negativos de abril para maio:
- Bens de consumo duráveis: -2,9%
- Bens de capital (máquinas e equipamentos): -2,1%
- Bens de consumo semi e não duráveis: -1%
- Bens intermediários (que serão transformados em itens finais): 0,1%
A queda mais acentuada nos bens de consumo duráveis se deve à menor produção de automóveis, eletrodomésticos da linha marrom (como TVs e aparelhos de áudio) e motocicletas.
"O pano de fundo é a questão do crédito, que impacta esses bens que dependem mais de financiamento", conclui Macedo.
Com informações da Agência Brasil