Seis décadas após a missão pioneira da Mariner 4, que visava capturar imagens de Marte, a expedição com o rover Perseverance emerge como a mais promissora na busca por vida fora da Terra. A NASA, em 10 de setembro, revelou a descoberta de possíveis bioassinaturas em uma rocha na cratera de Jezero, reacendendo esperanças na comunidade científica.
Na região marciana, onde rios e lagos fluíram há bilhões de anos, a combinação de minerais e matéria orgânica em uma rocha chamada Chevaya Falls pode indicar vestígios de vida antiga. Cientistas sugerem que esses indícios podem ser microfósseis, produtos do metabolismo microbiano que se alimentou de material orgânico.
A notícia, que circulava nos laboratórios da NASA há cerca de um ano, foi divulgada após revisão por pares e publicação na revista Nature. Apesar do entusiasmo, o artigo ressalta que os achados não são conclusivos, pois há a possibilidade de que a formação seja resultado de processos abióticos, ou seja, sem envolvimento de vida.
A astrônoma brasileira Rosaly Lopes, vice-diretora de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory da NASA, destaca que, embora os resultados sejam animadores, a confirmação só virá com análises laboratoriais na Terra. O administrador interino da NASA, Sean Duffy, afirmou que o retorno da amostra depende de avaliações de orçamento, tempo e tecnologia para a missão de resgate.
Corrida Espacial
Apesar dos desafios para confirmar a existência de vida em Marte, a NASA está engajada na corrida espacial, competindo com China, Índia e Rússia. Esses países buscam responder à pergunta que intriga a humanidade: estamos sozinhos no universo?
Em entrevista à TV Brasil, Rosaly Lopes discutiu missões futuras da NASA e a proximidade de descobertas sobre vida no Sistema Solar. "Um dos maiores objetivos agora da NASA é saber se existiu vida em outros mundos", afirmou.
Agência Brasil: O recente anúncio da NASA sobre a missão Perseverance e a potencial bioassinatura em Marte animou a comunidade científica. Como foi o clima entre os cientistas antes e depois do anúncio?
Rosaly Lopes: O resultado já era conhecido entre os cientistas desde a descoberta da rocha, há mais de um ano, quando o Perseverance fez as primeiras análises da amostra, chamada Cânion Safira. A diferença agora é a publicação do artigo científico, que valida as análises como boas, embora ainda não conclusivas. A possibilidade de ser uma bioassinatura em Marte é grande, mas precisamos trazer a rocha para a Terra para análises mais profundas.
Agência Brasil: Quais são as limitações do rover Perseverance em Marte?
Rosaly Lopes: Muitos sinais podem ter explicações abióticas, sem registro de vida, o que dificulta a prova com as medidas limitadas do robô. Para certezas, precisamos trazer a amostra para a Terra.
Agência Brasil: Como o estudo da origem da vida na Terra pode ajudar nas missões em outros planetas?
Rosaly Lopes: As pesquisas na Terra são fundamentais para entender a possibilidade de vida em outros planetas. No entanto, as condições são diferentes, e provar a evolução da vida em outro planeta é um dos maiores objetivos da NASA.
Agência Brasil: Quais são as próximas missões da NASA?
Rosaly Lopes: A missão Dragonfly, que sobrevoará Titã, está em preparação para lançamento em 2028 ou 2029, dependendo do orçamento. O objetivo é encontrar sinais de vida em Titã, uma lua de Saturno.
Agência Brasil: A missão Psyque, lançada em 2023, pretende investigar um asteroide. Existe preocupação com objetos celestes como o 3I/Atlas?
Rosaly Lopes: Embora interessante, o 3I/Atlas é considerado um cometa. Estudar objetos interestelares nos ajuda a entender se são semelhantes aos do nosso sistema solar. No entanto, não temos como lançar rapidamente uma missão para estudá-los.
Agência Brasil: A missão Artemis vai levar uma astronauta à Lua. Qual a importância dessa representatividade?
Rosaly Lopes: A presença de mulheres em missões espaciais inspira outras a seguir carreiras em ciência e tecnologia. É fundamental que as mulheres saibam que podem participar de qualquer área, representando 50% dos talentos disponíveis.
Agência Brasil: O que o supertelescópio James Webb revelou de mais surpreendente?
Rosaly Lopes: As imagens do James Webb são impressionantes e justificam o alto custo da missão. O sucesso do telescópio mostra que investimentos significativos podem trazer grandes avanços científicos.
Com informações da Agência Brasil