A pesquisa conduzida por Hemerson Dantas dos Santos Pataxó Hãhãhãi teve como ponto de partida a busca por tratamentos para as doenças mais comuns entre o povo Pataxó Hã-Hã-Hãi, localizado na Terra Indígena Caramuru/Paraguassu, no sul da Bahia. As enfermidades focadas foram verminoses, diabetes e hipertensão.
Hemerson, que é membro da etnia e doutorando no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), iniciou sua pesquisa com o objetivo de resgatar o conhecimento ancestral sobre o uso de plantas medicinais. Durante o estudo, ele catalogou 175 plantas utilizadas por seu povo, revelando que muitas delas são espécies exóticas introduzidas posteriormente no território.
Fragmentação Cultural e Ambiental
O pesquisador destacou que a presença de plantas exóticas é um reflexo da fragmentação cultural e do deslocamento forçado dos indígenas, agravados pela devastação ambiental e ações de grileiros. A Terra Indígena Caramuru/Paraguassu, com seus 54.105 hectares, foi reconhecida como reserva indígena em 1926, mas sofreu invasões e conflitos ao longo das décadas, especialmente com a expansão da cultura cacaueira nos anos 40.
Nos anos 80, após uma longa batalha judicial, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) conseguiu restituir as terras aos indígenas, mas os conflitos persistem até hoje. Hemerson relatou as dificuldades em encontrar algumas das plantas mencionadas pelos anciões, devido à perda da cobertura florestal original.
Descobertas e Resgate de Saberes
O estudo revelou 43 plantas utilizadas para tratar diabetes, verminoses e hipertensão. Entre elas, o mastruz é usado para verminoses, a moringa para diabetes e o capim-cidreira para hipertensão. Além disso, 79% das plantas catalogadas têm seus usos corroborados pela literatura científica recente.
Eliana Rodrigues, orientadora de Hemerson, ressaltou que o trabalho não apenas documenta, mas também resgata o conhecimento tradicional. Ela destacou que Hemerson é o primeiro pesquisador etnobotânico do mundo a realizar tal estudo em sua própria cultura.
Impacto e Futuro da Pesquisa
Os resultados da pesquisa de Hemerson serão compilados em um livro e um guia de receitas para o uso seguro das plantas. Um audiovisual também está sendo planejado. Além disso, um viveiro de plantas foi criado em uma aldeia para beneficiar a população local, promovendo a distribuição de mudas entre as aldeias próximas.
O trabalho de Hemerson é um exemplo de como a ciência pode ser usada para preservar e revitalizar o conhecimento ancestral, promovendo a saúde e o bem-estar das comunidades indígenas.
Com informações da Agência Brasil