Em meio a uma das áreas mais conflituosas do Rio de Janeiro, a Cidade de Deus, uma faixa foi erguida para chamar a atenção das autoridades sobre a importância de proteger as famílias durante operações policiais. A mensagem, colocada no telhado da ONG Nóiz, apela por cautela: “Calma! Aqui tem sonhos, crianças e famílias”.
Instalada em 24 de outubro, a faixa está localizada na sede da ONG, na área conhecida como Karatê-Rocinha 2. A casa, que abriga a organização desde 2018, já foi alvo de disparos de helicópteros, danificando uma caixa d’água há quatro anos.
“Precisávamos de alguma forma chamar a atenção para o fato de que, embora toda a comunidade tenha famílias e crianças, aqui passamos o dia inteiro em atividade. Sempre foi temeroso ser alvo de helicóptero. Então, decidimos colocar a faixa para chamar a atenção das autoridades”, explicou André Melo, presidente da ONG, à Agência Brasil.
Melo destacou que a região já foi palco de incursões policiais intensas, e a preocupação é que as pessoas da ONG e da comunidade não sejam colocadas em risco de vida.
Atividades da ONG
Atualmente, a ONG Nóiz atende 250 crianças cadastradas. Diariamente, cerca de 120 pessoas, entre crianças, jovens e adultos, participam das atividades oferecidas, que incluem dança contemporânea, balé, teatro, jiu-jitsu, reforço escolar e um projeto de alfabetização chamado Soletrar. A organização também oferece uma lan house social para acesso à internet, disponível para toda a comunidade.
Além disso, a ONG mantém uma biblioteca aberta até as 18h, oferece apoio psicológico e conta com um terapeuta ocupacional para auxiliar no tratamento de oito crianças autistas.
Nos sábados, a ONG realiza o Sábado do Acolhimento, que atende entre 40 e 50 crianças com atividades lúdicas. Outras iniciativas incluem um pré-vestibular social e plantões de assistente social, que ocorrem até as 13h.
Preocupações e Soluções
Questionado sobre a eficácia de faixas semelhantes em outras comunidades, Melo afirmou que qualquer esforço para chamar a atenção das autoridades é válido, ainda que não se saiba ao certo se surtirá efeito. Ele acredita que a simples presença de uma faixa com a palavra "PAZ" poderia ajudar a reduzir a sensação de insegurança.
“Não temos certeza se a faixa é eficaz, mas tudo é válido para tentar diminuir a sensação de insegurança nas comunidades.”
André Melo, que não nasceu na favela, mas se tornou um empreendedor social, enfatiza a importância de se cercar de alternativas para proteção. Ele sugere que o governo deveria mapear e replicar projetos de ONGs bem-sucedidos, já que o Estado não cria referências adequadas para as crianças e jovens das comunidades.
“Temos uma grande fila de espera de famílias que querem colocar as crianças aqui, e percebemos o desespero delas em buscar referências.”
Para Melo, enquanto a sociedade continuar a ver as comunidades como mundos à parte, as soluções não serão efetivas.
Com informações da Agência Brasil