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Umbanda faz culto à Iemanjá na véspera do réveillon no Rio

(via Agência Brasil)

| Edição de 31 de dezembro de 2025 | Atualizado em 31 de dezembro de 2025
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Ana Beatriz de Oliveira, com seus 23 anos, foi a primeira a chegar à Praia Vermelha, na zona sul do Rio de Janeiro, na noite de ontem (30), véspera de réveillon. Ela estava lá para participar do ritual em devoção à Iemanjá, a orixá feminina que, nas religiões afro-brasileiras como o Candomblé e a Umbanda, simboliza as águas dos mares e rios.

A jovem trouxe consigo rosas amarelas, uma oferenda para a entidade que tradicionalmente é homenageada com as cores azul e branco. "Eu fui comprar rosa branca, mas não tinha. Só tinha palma branca, só que estava murcha", explicou Ana Beatriz.

As rosas amarelas eram uma forma de gratidão à Iemanjá.

"Eu vim agradecer pelo ano. Vim agradecer por eu ter conseguido me formar [em arquitetura], porque foi muito difícil", contou Ana Beatriz, que agora está empregada no escritório onde estagiou antes de se formar.

Washington Bueno, de 58 anos, cabeleireiro e maquiador, também participou do ritual, trazendo palmas brancas para Iemanjá. Ele buscava bênçãos para trabalho, saúde e amor, mas tinha um pedido especial: menos violência de gênero.

"Nós brasileiros estamos um pouco em conflito. Há questões de [falta de] respeito ao próximo, né? Tivemos este ano de 2025 com tantas agressões às mulheres", lembrou. "Nós falamos tanto que nosso país é um lugar gentil. Cadê essa gentileza? Eu estou aqui para pedir um ano mais de conscientização com o bem-estar e cuidado de um do outro."

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 Pessoas se reúnem para celebrar, agradecer e levar oferendas a Iemanjá, misturando tradições iorubás, sincretismo religioso e preservação cultural, na Praia Vermelha, na Urca, zona sul do Rio. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil 

As oferendas, que incluíam palmas brancas, rosas amarelas e outras flores, podiam ser depositadas em um barco azul e branco de cerca de dois metros, adornado com a imagem de Iemanjá. O espaço para a gira na areia da praia foi organizado pela Associação Umbanda e Cultos Afros (Auca) e contou com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro.

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Celebração mistura tradições iorubás, sincretismo religioso e preservação cultural, na Praia Vermelha, na Urca, zona sul do Rio. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil 

Palco gospel

Apesar do apoio logístico e de segurança da prefeitura para os eventos religiosos de matriz africana, algumas lideranças da Umbanda veem um tratamento diferenciado para outras religiões nos eventos de fim de ano.

O babalawô Ivanir dos Santos, pesquisador e doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), questionou o patrocínio da prefeitura a um palco dedicado exclusivamente à música evangélica em Copacabana na noite do réveillon. "Por que esse privilégio?", indagou em entrevista à Agência Brasil.

"Não se trata de ser contra o palco gospel, não é esse debate. O debate é haver palco para apenas uma música religiosa", ponderou, destacando que católicos, muçulmanos, budistas, assim como o povo do Candomblé e da Umbanda, também produzem música religiosa para seus ritos e louvores.

Ele teme que o apagamento de tradições culturais e religiosas acabe por impor uma cultura espiritual "hegemônica" e pouco tolerante com outras formas de credo.

Em resposta às críticas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que "há uma parcela muito significativa da nossa cidade que gosta de música gospel e que quer — e pode — ter seu espaço".

"Esse público não vinha para Copacabana e agora vai vir, vai conviver com pessoas fazendo oferendas a Iemanjá. Isso é o sincretismo religioso do Brasil e da nossa cidade."



Com informações da Agência Brasil