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Afastamentos por problemas de saúde mental batem recorde

Cindy Santos

| Edição de 01 de outubro de 2025 | Atualizado em 01 de outubro de 2025

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Os casos de afastamentos do trabalho por saúde mental bateram recordes na região. No ano passado, foram mais de 500 licenças médicas concedidas a pessoas com doenças psiquiátricas em Apucarana e Arapongas, 14% a mais que o último pico de casos registrado durante o período pandêmico. Entre as principais causas estão episódios depressivos, transtornos ansiosos, psicóticos, transtorno afetivo bipolar, stress grave, entre outros problemas de saúde. Os dados são da Smartlab, plataforma do Ministério Público do Trabalho.

Arapongas detém o maior número de afastamentos, com 318 casos. O setor econômico com maior número de licenças médicas é a indústria moveleira, com 80 registros, seguido por atividades de atendimento hospitalar, com 25. As ocupações com maior índice de trabalhadores afastados por doenças mentais são os alimentadores de linha de produção, assistente administrativo e auxiliar de escritório.

Em Apucarana, 234 funcionários foram afastados de suas ocupações por motivo de saúde mental. Os setores onde há maior número de registros são administração pública em geral, judiciário, indústria de vestuário, comércio varejista e atividades de atendimento hospitalar. Os profissionais que mais se ausentaram do trabalho por motivo de saúde mental são os técnicos em enfermagem, motorista de ônibus, enfermeiro, professor, costureiro, alimentador de linha de produção.

O coordenador da atenção primária em saúde da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Moacir Paludetto Jr, observa que o aumento de casos de transtornos mentais após a pandemia ocorre a nível nacional. “A crise deixou “cicatrizes” e sequelas de uma experiência traumática”, considera. Segundo ele, fatores como avanços tecnológicos, competitividade, precarização do trabalho e a fragilização dos vínculos tornam a situação no ambiente laboral particularmente crítica, gerando um sentimento de insegurança e incerteza.

“Vivemos em uma sociedade adoecida, em meio a um processo intenso de reestruturação da vida social, com a digitalização e um ritmo acelerado de mudanças que geram um mundo muito mais inseguro e incerto para as pessoas”, analisa.

Para o coordenador, o número recorde de afastamentos em 2024 indica um agravamento real das condições de saúde mental no ambiente de trabalho. “Esse índice não é visto como um evento isolado, mas como o resultado de uma crise multifatorial que combina as sequelas da pandemia com problemas estruturais e conjunturais do mercado de trabalho e da sociedade em geral, influenciado também pela hiperconectividade e perda de vínculos sociais. A pressão por aumento de produtividade, muitas vezes sem a devida remuneração ou tempo adequado para as tarefas, é uma causa frequente de problemas de saúde mental”, aponta.

Paludetto ressalta que muitas empresas ainda mantêm práticas de gestão consideradas arcaicas e autoritárias, focadas em controle excessivo, o que potencializa problemas como assédio e gera mais tensões e conflitos no ambiente de trabalho.

16ª Regional de Saúde capacita profissionais e fortalece cuidado mental

Entre as principais ações desenvolvidas pela 16ª RS para prevenção e tratamento de problemas de saúde mental, está a capacitação dos profissionais de todas as Unidades Básicas de Saúde dos 17 municípios vinculados à região por meio do Projeto PlanificaSUS.

“Com esta capacitação, os municípios estão avançando na estratificação de risco destes pacientes, conseguindo, na maior parte dos casos, ofertar o tratamento UBSs sem que este paciente tenha que aguardar por atendimento especializado, fazendo com que aqueles casos mais graves sejam atendidos mais rapidamente nos ambulatórios especializados”, destaca Moacir Paludetto Jr.

Ele ressalta que os profissionais da regional realizaram o curso de 40h do Mental Health Gap (mhGAP) com foco no fortalecimento da linha de cuidado em saúde mental na Atenção Primária à Saúde (APS). “Faz parte de uma estratégia nacional da Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio do Programa de Ação para Reduzir as Lacunas de Cuidado em Saúde Mental (mhGAP). O objetivo é qualificar profissionais não especialistas para o manejo de transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias (MNS) nos serviços de saúde da atenção básica”, destaca. A ampliação das vagas ofertadas nos ambulatórios de saúde mental por meio do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Ivaí e Região (Cisvir), bem como a ampliação da lista de medicamentos para o tratamento dos transtornos mentais, também estão entre as ações de impacto na área.