Impulsionada por incentivos e maior mercado, a piscicultura avançou no Vale do Ivaí. Conforme dados divulgados no último Valor Bruto de Produção (VBP) do Departamento de Economia Rural (Deral), dos Núcleos Regionais da Seab de Ivaiporã e Apucarana, em 2023, somente com a produção de tilápias – espécie mais popular do segmento – o setor movimentou R$ 12,3 milhões, aumento de 68,49% em relação ao ano anterior quando foi a atividade somou R$ 7,3 milhões. O volume produzido chegou a 1,25 mil toneladas, com destaque para o município São João do Ivaí, que produziu 650 toneladas e teve faturamento de R$ 5,9 milhões em 2023.
O setor se expande devido à alta demanda e aos investimentos em tecnologia, exemplo disso, é o frigorífico de peixes Mais Fish empresa familiar de São João do Ivaí localizada no distrito de Ubaúna que em 2022 foi a primeira da atividade a receber o certificado do SISBI (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal).
O certificado é equivalente ao SIF, que é emitido pelo Serviço de Inspeção Federal e, com isso, a empresa tem autorização para comercializar em qualquer estabelecimento comercial do território nacional, seja para restaurantes, supermercados, pesqueiros, entre outros.
Para o proprietário da Mais Fish, Edilson Pini, a conquista representa o resultado de anos de dedicação e aprendizado. “Visitamos mais de 20 frigoríficos, trocando experiências e adquirindo conhecimento. A adesão ao Consórcio Intermunicipal CID Centro também foi crucial para esse avanço”, afirmou.
A empresa, que antes distribuía sua produção em um número limitado de municípios, agora atende quase 100 cidades do Paraná. Segundo Pini, a certificação não só abriu novos mercados, mas também validou o compromisso da Mais Fish com a qualidade. “Investimos em tecnologia, bem-estar animal e nutrição de alta qualidade, sem uso de antibióticos ou químicos. Isso garante uma carne de tilápia superior, com sabor e textura diferenciados”, explicou.
Para ele o mercado da piscicultura no Vale do Ivaí apresenta grande potencial para se tornar uma referência, assim como aconteceu com a avicultura, hoje carro-chefe do agronegócio em vários municípios do Vale. Para isso, é necessário trabalho, conhecimento e parcerias, além do apoio governamental nas três esferas: federal, estadual e municipal.
“Acreditamos que a piscicultura pode contribuir significativamente para o desenvolvimento regional, gerando emprego e renda. Com a capacitação de mão de obra e a implementação de boas práticas de produção, podemos evoluir e consolidar a atividade como um pilar econômico do Vale do Ivaí”, conclui Pini.
Integração facilita acesso do produtor
Outra iniciativa que vem contribuindo com o aumento da psicultura na região é o projeto de integração da Cocari para a produção de tilápias.
Em Jardim Alegre, Alexandre Rocca de Araújo, é dono de uma propriedade rural onde mantém um pesqueiro e restaurante e encontrou no projeto a oportunidade de aumentar a renda da propriedade. Dos três tanques que mantinha como pesque e pague duas passaram a produzir tilápias exclusivamente para a integradora e a terceira passou a ser utilizada somente para a pesca esportiva.
A integradora fornece os peixes juvenis, assistência técnica, a ração, despesca, o abate e a garantia de compra. O produtor entra com a área, a mão de obra e a aquisição e manutenção dos equipamentos.
Segundo Alexandre, a principal dificuldade dele com a produção dos peixes vinha sendo alto custo da eletricidade. Porém, no último final de semana concluiu a instalação dos painéis solares. “Vai ajudar bastante, com a energia cara o lucro não era tão significativo. Com a energia solar vai mudar tudo. A expectativa é outra”, afirma.
Atualmente, Alexandre aloja 54 mil peixes e planeja expandir o negócio, instalando um terceiro tanque. “Com a instalação do sistema solar, tenho mais espaço para crescer na piscicultura”, diz.
A despesca ocorre após 8 a 10 meses, quando os peixes atingem o tamanho ideal. O preço pago por quilo varia, mas gira em torno de R$ 1,30 a R$ 1,50, dependendo da produtividade. “Se o criador não se dedica, o preço cai”, explica.
Avanço em todo estado
O avanço da produção de peixes não é fenômeno exclusivamente local. Em todo Paraná, a tilápia é a espécie em destaque, representando 85% do VBP do setor, que totalizou R$ 2,07 bilhões em 2023. As perspectivas de aumento da produção no Estado são bastante otimistas.
“Com os investimentos realizados pela indústria de processamento, o cenário que se desenha para os próximos anos é otimista e espera-se que a atividade dobre de tamanho num curto espaço de tempo, possivelmente nos próximos três anos”, salienta Edmar Gervásio, técnico do Deral, em artigo.
O Paraná é líder na produção e exportação de tilápia e tem mantido um crescimento constante nas duas atividades. Entre 2022 e 2023 (último dado), a produção estadual aumentou em 30,8%, enquanto a exportação nesse mesmo período subiu 0,29%. Mas em 2024 foram enviados ao Exterior 47% a mais que no ano anterior em volume.