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Mulheres assumem o cabelo crespo e resgatam autoestima

Cindy Santos

| Edição de 19 de novembro de 2024 | Atualizado em 19 de novembro de 2024

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Usar o cabelo natural pode parecer algo simples, mas para uma mulher negra, alvo do preconceito por ter fios crespos e pele escura, assumir sua real identidade é uma grande conquista. O tema serve de reflexão nesta quarta-feira (20), quando é comemorado o Dia da Consciência Negra e, pela primeira vez, é feriado nacional.

Após anos alisando o cabelo, a cabeleireira Paula Mercês, de Apucarana, passou por uma transição capilar e hoje ostenta os fios naturais e ajuda outras mulheres a se redescobrirem por meio de sua profissão.

“Quando vi meu cabelo cacheado crescendo, me apaixonei. Decidi que queria ajudar outras mulheres a se aceitarem como são”, afirma. Foi então que ela decidiu se especializar em cabelos com curvatura.

Ela relembra comentários preconceituosos que ouviu durante sua transição capilar, como quando foi questionada por deixar de alisar os cabelos. “Ouvi que estava ‘voltando a ter cabelo ruim’. Isso só reforçou minha vontade de seguir e mostrar que não existe cabelo ruim, mas pessoas que não sabem cuidar dele”, conta.

A professora Tamires Gorbatto, de Apucarana, também ouviu muitos comentários preconceituosos sobre seu cabelo afro na infância, o que a motivou a alisar. “Chamavam meu cabelo de bombril, bucha, essas coisas”, recorda.

Os ataques sofridos durante a infância evidenciam a necessidade de uma educação antirracista, que na opinião de Tamires, deve começar em casa com a família, que deve ensinar conceitos de respeito e valores. “Eu acho que a educação e o respeito têm que vir de casa. Os pais devem ensinar sobre as diferenças. A escola tem papel importante, mas, mais importante que a escola é a família”, reitera.

Na opinião da professora, os padrões de beleza impostos pela sociedade também são prejudiciais. “A sociedade tem que parar de colocar paradigmas de beleza. Cada um tem suas características e isso não devia ser determinado entre ser feio ou bonito”, opina.

As cabeleireiras Andressa Saretti e Ana Maria Winkelmolen também se especializaram na área. Após passar pelo processo de transição capilar, elas notaram uma certa carência de profissionais especializados em cabelos com curvatura e decidiram apostar nesse nicho de mercado. “Os cabelos com curvaturas precisam de cuidados específicos, que não são os mesmos de cabelos lisos”, explica Saretti.

Para Andressa, assumir o cabelo natural ultrapassa a barreira estética, é um sinônimo de empoderamento. “Para nós, assumir o cabelo natural é muito mais que estética, é aceitar as próprias origens, resgatar a autoestima e ter a liberdade de não ter que alisar os cabelos para se sentir bem”, ressalta.

Racismo estrutural é desafio em Apucarana

O coordenador do movimento Diversidade Cultural Plural, Carlos Alberto Figueiredo, afirma que o racismo estrutural continua muito presente na sociedade apucaranense, ao ponto de o cabelo afro impedir uma contratação.

“Jovens já vieram me questionar que não conseguiram emprego devido a seu cabelo afro. Uma jovem disse que teve todos os requisitos aprovados, mas pediram para ela alisar o cabelo ou até fazer outro penteado sem usar o cabelo tão volumoso. Isso acaba com a autoestima de uma pessoa”, denuncia.

De acordo com Figueiredo, assumir o cabelo afro é uma forma de resistência à estética do racismo estrutural que desvaloriza a beleza negra ao ponto de chamar o cabelo crespo de “ruim” ou “feio”.

Para ele, a validação do Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quarta-feira, é mais um grito de resistência negra no país, com mais força e expressão.