POLÍTICA

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Não é apenas Bolsonaro: todos venceram esquerda em Apucarana

Fernando Klein

| Edição de 04 de junho de 2025 | Atualizado em 04 de junho de 2025

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Oex-presidente Jair Bolsonaro (PL), identificado com o movimento de extrema-direita, não foi o único candidato que venceu as eleições presidenciais com larga vantagem em Apucarana desde a redemocratização. Por conta de uma forte rejeição ao PT na cidade, todos os nomes que disputaram as eleições na cidade - a maioria políticos do centro - venceram com facilidade as eleições localmente, mesmo quando Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff foram eleitos.

Na segunda-feira (02), a Câmara de Vereadores aprovou, em primeiro turno, o título de Cidadão Honorário do município ao ex-presidente Jair Bolsonaro em sessão marcada por tumulto. Na oportunidade, vereadores justificaram a homenagem dizendo que “Apucarana é bolsonarista”.

Historicamente, no entanto, Apucarana sempre elegeu candidatos de centro (Collor, Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves) e até mesmo com origem na centro-esquerda (Fernando Henrique Cardoso). Bolsonaro é o único de extrema-direita escolhido pela população desde a redemocratização.

Na primeira eleição com voto direto após o período da ditadura militar, o ex-presidente Fernando Collor, hoje sem partido, venceu com 75,74% dos votos contra 24,26% conquistados por Lula. O maior percentual, no entanto, foi obtido por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na sua reeleição em 1998, quando obteve 78,83% dos votos contra 14,85% do petista. Ele também já havia batido Lula em 1994 (67,99% x 17,32%).

Até mesmo quando venceu a eleição nacionalmente, Lula foi derrotado em Apucarana. Em 2002 perdeu para José Serra (PSDB), que fez 55,11% a 44,89% dos votos. A diferença de mais de 10% foi o melhor resultado do petista na cidade até hoje. Em 2006, Lula perdeu para Geraldo Alckmin (PSDB) – hoje vice-presidente- por 63,94% a 36,06%. Em 2022, quando voltou ao poder, perdeu de Bolsonaro: 70,60% a 29,40%.

Dilma também não teve sorte na cidade. Perdeu para Serra em 2010 (69,56% x 30,44%) e para Aécio Neves (PSDB) em 2014 (66,81% x 33,19%).

Fernando Haddad (PT) também foi derrotado. O atual ministro da Fazenda fez 22,40% dos votos contra 77,60% de Bolsonaro em Apucarana, que também foi eleito nacionalmente na oportunidade.

O professor de ética e filosofia política da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Elve Miguel Cenci, explica que Apucarana, assim como os municípios do Sul do Brasil, tem um eleitor conservador. E isso não tem a ver necessariamente com Bolsonaro.

“O eleitor, nesse cinturão do agronegócio, que vai do Rio Grande do Sul, parte de São Paulo e chega ao Mato Grosso do Sul, tende a votar na direita e na extrema direita. É um eleitorado que não vota na esquerda, apesar de algumas exceções em âmbito municipal, como em Londrina, que elegeu três vezes prefeitos petistas e Apucarana, uma vez”, explica o professor.

Segundo ele, esse antipetismo não chega a ser uma novidade. “O eleitor dessa região do país costuma embarcar nesse discurso anticomunista”, cita.

Sobre as vitórias obtidas pelo PSDB com FHC, Aécio, Alckmin e Serra, Cenci afirma que eles foram vitoriosos porque eram as únicas opções. “Não havia candidatos de direita ou de extrema-direita. O PSDB é, na verdade, um partido de centro. Todos candidatos do PSDB não tinham carisma, mas sempre venceram no Sul”, pontua.

Bloqueio’ é fruto do conservadorismo, diz deputado

O deputado estadual Arilson Chiorato, presidente estadual do PT, reforça que o mau desempenho nas eleições presidenciais é, sim, fruto do perfil conservador dos eleitores. “Esse ambiente faz com que partidos mais progressistas, como o PT, tenham mais dificuldade eleitoral”, diz.

Chiorato assinala que esse “bloqueio” – ele prefere não usar o termo “rejeição”– ocorre mesmo com o grande número de investimentos do PT em Apucarana, a maioria trazidos por ele próprio e também pela deputada federal Gleisi Hoffmann.

No entanto, ele rebate a afirmação de muitos vereadores, que afirmaram que Apucarana é “bolsonarista”. “Falar que Apucarana é bolsonarista é manchar o nome da cidade, porque Bolsonaro é sinônimo de defesa da ditadura militar, que prendeu e matou inúmeras pessoas, inclusive jovens de Apucarana, e também de negacionismo, com as mortes causadas durante a pandemia de covid-19. Apucarana não é isso”, completa o parlamentar.