Encontramo-nos às vésperas de mais uma data comemorativa – 31 de outubro – do fenômeno cultural eminentemente norte-americano, o Halloween. As escolas de idiomas, em todo o Brasil, ficam abarrotadas de bruxas, abóboras e morcegos para a celebração do Dia das Bruxas. Nas escolas de ensino regular, alunos chegam a ir para a aula com fantasias e máscaras de monstros. Pois é, será que sabemos o que realmente significa esse fenômeno? Conhecemos a ideologia predominante desse evento cultural? De que modo nossos filhos absorvem uma cultura que é do outro (estrangeira) na aprendizagem do inglês?
Ao refletirmos mais sobre o assunto, compreenderemos que língua e cultura estão intrinsecamente relacionadas, uma vez que a língua expressa, incorpora e simboliza uma cultura. O status do inglês como língua hegemônica é evidente pela sua presença na maioria das produções culturais de mídias, como: filmes, programas de televisão e de rádio, músicas, propagandas, jornais, revistas, computador, Internet, as quais direcionam o comércio e a indústria de vestuários, da moda e dos hábitos alimentares. O exclusivismo cultural, proveniente do poderio político, econômico e tecnológico dos Estados Unidos, se faz presente na sociedade globalizada e incorpora-se de forma “natural” nas demais culturas, ou, como diria o educador brasileiro Paulo Freire, há um “invasor hospedado dentro de nós”.
Em um estudo sobre a alienação e o ensino de inglês como língua estrangeira no Brasil, o linguista brasileiro Moita Lopes entrevistou professores de escolas públicas e constatou uma postura que ele considera “excessivamente colonizada” por parte dos mesmos. Atitudes como “tendência de quase embasbacamento pelo que é estrangeiro” e “a exigência de uma pronúncia tão perfeita quanto à do nativo e a incorporação de hábitos culturais à própria cópia xerox do falante nativo”, levaram-no a detectar um “sintoma de alienação”.
A alienação cultural do fenômeno Halloween nas nossas escolas e, portanto, na sociedade brasileira, uma vez que, simbiótica ou dialeticamente, uma (re)produz a outra, me parece secular. Criou-se aí, um aparelho cultural alienante que, como complementa Moita Lopes, “deixa raras brechas para o colonizado respirar”. Nós somos esse colonizado cultural e colonizamos nossos alunos nas salas de aula, nossos filhos nas lojas do shopping center, quando não nos atemos a uma perspectiva de relativismo cultural que leve em conta a história e os significados verdadeiros de eventos culturais como este, do mesmo modo como deveríamos levar em consideração as datas culturalmente festivas no Brasil.
O Halloween é uma celebração fundamentalmente mística, que se reporta a uma tradição celta pagã de quase 2 mil anos atrás. Essa tradição baseava-se na crença de que na passagem da noite do mês de outubro para o dia primeiro de novembro, a qual marcava o Ano Novo, os espíritos dos mortos vinham se juntar aos dos vivos. Depois, tradicionalmente, a Igreja Católica passou a adotar esse dia como o Dia de Todos os Santos.
Enfim, precisamos culturalmente nos educar (pais e professores) e educar nossos filhos e alunos a respeito da cultura/língua estrangeira e, principalmente, da nossa própria cultura/língua.