Dias desses fui com o meu excelentíssimo marido ao show do grande poeta e músico Fernando Anitelli, do O Teatro Mágico. Além de recordar os tempos de namorinho na UEL há quase 20 anos, conhecemos músicas novas e entre uma música e outra, Fernando contava histórias e refletia sobre as próprias canções. Entre tantas frases, uma me impactou de forma irreparável, quando disse que sua sobrinha queria brincar com ele “até o relógio acabar”, depois dele tentar colocar um limite no tempo da brincadeira, já que ela era incansável. “Até o relógio acabar!!!”. Fiquei pensando muito no que isso poderia significar, não para ela ou para ele, mas para mim.
Como mãe de três lindas crianças, tão agitadas e animadas como deveriam ser, sendo também professora, mentora de inteligência emocional e, por quê não, esposa, tenho tentado entender o tempo e a sua relatividade. Não se preocupem, pois não abordarei Einstein e sua famosa teoria, há algo muito mais simples e perceptível a cada um de nós, até mesmo para as crianças. O tempo é alheio a nossa vontade e quando mais cedo percebermos isso, mas fácil tudo se torna.
Minha filha mais velha, Anna Beatriz, já tem nove anos. Meu Deus, parece que foi ontem que a segurei pela primeira vez no colo, recebendo-a dos braços do meu marido. Naquele momento, nenhum de nós dois sabíamos, mas o tempo nunca mais seria mesmo. Por curtos (depende do ponto de vista) cinco anos, ela foi o centro de todas as atenções, até que o seu presente de aniversário chegou com um dia de atraso, trazendo ao mundo o pequeno João Vicente, que talvez com medo da infância, exigiu ao Papai do Céu sua companheira Nina Giovanna pouco mais de um ano depois. Cada um deles precisa do seu tempo, do meu tempo e do nosso tempo. Entretanto, eles possuem o tempo deles, que nenhuma outra companhia poderia substituir.
Às vezes lembro com saudade de quando eram bebês, mas também agradeço a evolução de cada um deles, de serem capazes de expressar onde e o que dói, mesmo que não seja no corpo. São essas dores que a mais velha começa experimentar que eu preciso ficar ainda mais atenta, pois aos poucos ela vai deixando de ser a minha criança e se torna a minha parceira e amiga, mesmo que seja para ver vídeos ou se aventurar na cozinha.
Ao conversar com ela, percebemos, eu e o Gui – como chamo o tal Professor Bomba -, que ela aos poucos vai esquecendo de momentos que para nós parecem ontem. Entendi assim, que o tempo é relativo não apenas enquanto se vive o presente, mas também quando ele vira passado e o futuro já não é amanhã. Toda dor uma hora pode virar uma risada, depende de quão distante da sua razão, como quando a Anna quebrou a perna descendo de uma escada e passou o verão todo de gesso, isso com menos de 3 anos.
Se já venho tentando encontrar o meu lugar no mundo, descobri uma nova função que ainda não havia dado nome. Sendo mãe, sem esquecer o papel do papai, nossa missão é sermos os guardiões da memória dos nossos filhos, pois será através de nossas narrativas que eles se lembrarão de como o tempo parecia infinito em uma tarde de férias de julho. Sendo também filha, percebo o quanto esqueci da minha infância, recordando principalmente histórias que vivi, mas tive que ouvir de outros para lembrar. Foto nenhuma faz sentido sem a voz que a narra. Serei sempre a mãe deles e eles meus filhos, bem como eu sou a filha que também é a filha de outra mãe. O tempo vivido é curto, mas o sentimento que ele traz é eterno, como se o relógio já tivesse acabado.