A explosão das plataformas de apostas esportivas é um fenômeno que tem levantado debates acalorados sobre os limites entre liberdade de mercado e responsabilidade social. Recentemente, a legalização de algumas dessas empresas trouxe à tona uma série de questões éticas e sociais, especialmente no Brasil, onde a publicidade massiva envolvendo celebridades e atletas renomados impulsionou a popularização das chamadas “bets”. Galvão Bueno, embaixador de uma dessas casas de apostas, bem-sucedido e milionário narrador esportivo, foi escolhido pela ligação com o futebol, já que as bets investem mais de R$3,5 bilhões (BI mesmo) em times e competições. Com denuncias de manipulação de jogos na grande mídia, é necessária uma voz imponente que diminua a sensação de que algo está errado.
A expansão dessas plataformas não é apenas um reflexo de um mercado lucrativo, mas também de uma ausência de regulação clara por anos, permitindo que o setor crescesse quase sem barreiras. Com a legalização, surge a promissão de arrecadação de tributos que poderiam ser direcionados a áreas fundamentais como saúde, educação e segurança. No entanto, o custo social dessa prática ainda está longe de ser completamente mensurado.
A propaganda massiva, veiculada em todos os meios de comunicação, vende a ideia de que apostar é algo glamouroso, acessível e divertido. No entanto, essa narrativa mascara os riscos envolvidos, especialmente para as populações mais vulneráveis. O jogo patológico, ou ludopatia, é uma condição reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um transtorno do controle de impulsos. Trata-se de uma dependência que compromete a saúde mental, financeira e social dos indivíduos, podendo levar à ruína econômica, ruptura de laços familiares e até mesmo a comportamentos autodestrutivos.
Pesquisas mostram que a exposição a práticas de apostas desde cedo aumenta significativamente o risco de desenvolvimento dessa patologia. Jovens, atraídos pela promessa de ganhos fáceis, são especialmente vulneráveis. No Brasil, onde a educação financeira é deficiente e as desigualdades sociais são gritantes, as apostas tornam-se uma “escapatória” ilusória, agravando o problema.
Apucarana, como tantas outras cidades do interior do país, não está imune a esse fenômeno. Os efeitos do crescimento desordenado das apostas já começam a se refletir em relatos de indivíduos endividados e famílias desestruturadas. Nesse cenário, cabe ao poder público local se antecipar aos desdobramentos mais graves.
Políticas públicas voltadas para a prevenção e o tratamento do jogo patológico devem ser elaboradas com urgência. A criação de centros de apoio aos apostadores, que ofereçam acompanhamento psicológico e assistência social, é uma medida indispensável. Além disso, é fundamental investir em campanhas de conscientização sobre os riscos das apostas e promover uma educação financeira robusta em escolas e comunidades.
Ao mesmo tempo, é preciso enfrentar a narrativa publicitária com regulações mais restritivas sobre a veiculação de propagandas que incentivam o jogo. Celebridades e influenciadores também têm um papel a cumprir ao repensarem suas associações com marcas cujas práticas podem alimentar uma crise social silenciosa.
A discussão sobre as plataformas de apostas é, acima de tudo, um debate sobre responsabilidade. Como sociedade, não podemos ignorar os impactos negativos que já se desenham no horizonte. O glamour promovido pelas “bets” tem um custo alto, e cabe a todos, do poder público à sociedade civil, trabalhar para minimizar os danos e oferecer suporte àqueles que mais precisam. Apucarana, com sua vocação para a inovação e o cuidado com sua população, pode e deve liderar pelo exemplo. “Mas joga quem quer!”, você pode me dizer, mas saiba, caro leitor e leitora, que a propaganda de cigarro foi proibida por um bom motivo.