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Adolescente é assassinado a facadas por colega em escola

Vanuza Borges

| Edição de 22 de março de 2017 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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Um crime brutal assustou alunos e professores anteontem no Colégio Estadual Rosa de Lúcia Calsavara em Cambira. Um aluno, de 16 anos, foi surpreendido por um amigo e colega de sala de aula, que desferiu nove facadas. A vítima, Rafael Sanches Cogo, tentou fugir dos golpes, mas morreu ainda no pátio da escola, minutos após o início das aulas do período noturno, por volta das 19h20. O assassino, que também tem 16 anos, saiu pela porta da frente, após lavar a faca usada no crime no bebedouro da escola. O jovem, que não tem registro criminal anterior, acabou apreendido horas depois e não falou da motivação. A Polícia Civil chamou atenção para o perfil sombrio do jovem nas redes sociais.

Imagem ilustrativa da imagem Adolescente é assassinado a facadas por colega em escola


Ontem à tarde, uma equipe da Polícia Civil esteve no colégio, para fazer uma segunda perícia da cena do crime. No interior do ambiente escolar, o delegado-chefe da 17ª Subdivisão Policial (SDP), José Aparecido Jacovós, relatou como o crime ocorreu. Anteontem à noite, investigadores também estiveram no local colhendo informações.
Segundo a Polícia, a vítima recebeu a primeira facada assim que desceu o bloco de escadas, que dá acesso ao refeitório e a quadra esportiva. Desorientado, Rafael teria batido numa mureta. Na tentativa de escapar do assassino, ele continuou andando por mais alguns metros. No total, foram desferidos nove golpes de faca.
“O autor deste assassinato brutal tem fortes características de psicopatia. Em sua página social no Facebook, ele fez inúmeras postagens de personagens assassinos, como Dexter”, diz o delegado referindo-se a uma série norte-americana em que o personagem principal era um assassino serial. Nas postagens do jovem, outros personagens sombrios eram frequentes.
Ainda segundo o delegado, o adolescente não deixou claro o que motivou o crime. “Dizia apenas que não gostava da vítima, que pedia para ele sair de perto dele, mas não saia”, relata. Entretanto, Jacovós observa que os dois eram considerados amigos pelos colegas. “Inclusive, eles jogaram futebol juntos no último domingo”, conta.
Alunos também afirmam que no dia do crime, os dois chegaram juntos à escola. Os dois estudavam na mesma sala. “A conclusão é que tudo foi premeditado. Ou seja, ele poderia ter matado o outro jovem fora da escola, mas fez no colégio para se sobressair, como se quisesse dizer: eu faço e desfaço”, diz.
O jovem, que encontra-se apreendido na delegacia, deve ser ouvido novamente pela polícia. Ontem, centenas de pessoas acompanharam o velório, que foi realizado no Clube 22 de Outubro, e o sepultamento, no Cemitério Municipal.

Jovens eram colegas de sala
A tragédia em Cambira surpreendeu não só a comunidade escolar, mas a cidade. Para a amiga da família da vítima, Marta Cervalho, de 41 anos, o adolescente Rafael Sanches Cogo era calmo e tranquilo. “Essa notícia pegou a gente de surpresa. Ela era um menino calmo, não era briguento”, diz.
O avô Alcides Sanches, 60, define o neto como educado e carinhoso. Já a adolescente, Luzia Piedade Lopes, 17, que estudou com Rafael no último ano, destaca que ele era tranquilo.
Gabriel Silva, 16, que também estudou com Rafael no ano passado tem opinião semelhante: “Era um menino tranquilo. Não mexia com ninguém”, diz. O mesmo comportamento também era notado no amigo, que era mais fechado, mas também não tinha perfil agressivo e sempre ajudava o pai, que era dono de açougue. “Ele só era mais fechado”, comenta Matheus Augusto Pires, 17.
A chefe do Núcleo Regional de Educação, Maria Onide Balan Sardinha classifica o ocorrido como algo chocante, que entristeceu toda comunidade escolar. “Não esperáramos que algo tão terrível pudesse ocorrer numa escola considerada tranquila. Estamos discutindo estratégias para trabalhar o assunto com os alunos.
Até o final da tarde de ontem ainda não estava definido o retorno das atividades na escola.

Psicóloga alerta para agressividade
A psicóloga Débora Menegazzo, de Apucarana, observa que antes da exteriorização de violência extrema – como o caso registrado em Cambira, é possível identificar alguns sinais, em especial, o isolamento social e a agressividade. “A agressividade pode ocorrer na própria família, com os amigos ou no ambiente escolar. Mais do que esses dois indicadores, que são bastante importantes, essas situações ocorreram por falta de repertório do jovem, que não consegue resolver situações insatisfatórias”, diz.
Uma maneira, segundo ela, de ajudar o jovem com dificuldade a desenvolver socialmente o repertório comportamental é através das as interações familiares, dos diálogos, além de incentivar a frequentar espaços saudáveis, como grupos religiosos ou esportivos.
“Quando é identificada essa tendência agressiva, o jovem precisa de ajuda. A família tem que incentivar essa participação nessas redes sociais saudáveis e também a psicoterapia, que é um espaço que esse jovem será compreendido profissionalmente e ajudado, bem diretiva, maneira coerente, que faz parte do universo dele”, comenta.