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Apucarana e Arapongas têm alta de 13,6% nas doações de órgãos

Cindy Santos

| Edição de 17 de fevereiro de 2023 | Atualizado em 17 de fevereiro de 2023

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O número de doações de órgãos cresceu 13,6% nos dois maiores hospitais da região em 2022 em comparação com o ano anterior. Dados levantados junto ao Hospital da Providência, de Apucarana, e Hospital Norte do Paraná (Honpar), de Arapongas, apontam que no ano passado foram realizadas 75 captações de órgãos e tecidos contra 66 em 2021. 

No ano passado, o Honpar realizou 60 captações de órgãos, sendo 53 de globos oculares (para retirada de córneas e outros tecidos) e 7 de múltiplos órgãos. Uma alta de 20% em comparação a 2021, quando o hospital realizou a captação de 50 órgãos, sendo 40 de globos oculares e 10 de múltiplos órgãos. 

A coordenadora geral da Comissão Intra-hospitalar de Órgãos e Tecidos para Transplantes do Honpar, Elza de Lara Bezerra, atribui o aumento no índice às ações de conscientização sobre a importância do tema e, também, ao acolhimento familiar no ato da internação e no momento de noticiar a morte do paciente. 

“Após a família ter compreendido a perda real do seu ente amado, os profissionais irão dar a família a oportunidade da doação, ou seja, a oportunidade de ajudar pessoas em sofrimento, algumas há anos à espera de um órgão”, destaca. 

No ano passado, 106 pacientes que aguardavam pelo transplante de córneas saíram da fila de espera após receberem órgãos captados no Honpar. Em 2021, 80 pacientes foram contemplados com essa modalidade de transplante. 

No ano passado, o Hospital da Providência, de Apucarana, atingiu taxa de conversão de 88% nas doações de órgãos. Dos 20 doadores elegíveis, o hospital obteve autorização de captar órgãos e tecidos de 17 pacientes. A autorização é feita por familiares e, naquele ano, duas recusas foram registradas. Em 2021, foram 24 doadores elegíveis, 16 captações e 7 recusas, resultando 70% de conversão. 

O cardiologista Mateus Dias de Moura, presidente da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do “Providência”, enaltece o trabalho realizado pelo hospital, que, segundo ele, obteve a maior índice de conversão do Paraná entre os hospitais que realizaram mais de 15 entrevistas com familiares. 

Na avaliação do médico, o envolvimento dos profissionais de saúde, a divulgação junto à comunidade e o acolhimento das famílias estão entre os fatores que ajudaram a instituição de saúde atingir esse índice. “O acolhimento da família é o fator mais importante. No momento de luto e dor, a família tem que se sentir confortada. A doação depende disso”, assinala. 

Falta de informação das famílias ainda é um desafio 

Mesmo que o trabalho de acolhimento resulte em um número maior de autorizações, as recusas ainda acontecem e, na opinião da gerente de enfermagem do Hospital da Providência, Renata Janaína Costa, elas são reflexo da falta de informação. Neste caso, Janaína acredita que a comunicação é a melhor maneira de aumentar as doações e reduzir filas de espera por transplante de órgãos. Até janeiro deste ano, mais de 3,2 mil pessoas estavam cadastradas na fila de espera. 

“A legislação determina que a família é a único responsável apta a autorizar a doação. Isso significa que a informação do doador ou não doador registrado em documento de identidade, Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou rede social, não tem valor legal, mas pode ajudar a família a saber à vontade e ajuda a aceitar melhor esse processo”, aponta. 

Outro empecilho é o medo da captação de órgãos deformar o corpo do paciente, o que segundo a enfermeira, não ocorre. Segundo ela, os órgãos doados são removidos cirurgicamente e antes de ser entregue à família o corpo é reconstituído condignamente e sem deformidades, podendo ser velado normalmente.

Transplantados destacam “segunda chance” e “gesto de amor” 

O aposentado Alexandro Aparecido dos Santos, 50 anos, de Apucarana, foi diagnosticado com uma doença cardíaca aos 24 anos e tinha muitas limitações. Ele conta que fez muitos tratamentos, mas nenhum teve sucesso. 

“Sentia muito cansaço, mal conseguia comer, tomar água. Não conseguia nem tomar banho sozinho. Meu caso se agravou e precisei ser hospitalizado. Como corria risco de morrer, entrei na lista de urgência por um transplante e após 30 dias no hospital meu transplante de coração aconteceu”, relata.

Santos conta que após a cirurgia sentia que estava “mais morto do que vivo”. Após vários dias no hospital, ele se recuperou e hoje leva uma vida normal. “Eu senti muito medo, tinha uma cisma danada da cirurgia, eu queria ficar curado sem precisar passar pelo transplante. Mas graças a Deus, ganhei nova vida. Hoje tenho 50 anos de vida, graças a Deus”, diz. 

A londrinense Adriele Bueno, 37 anos, ganhou uma nova chance de vida após um transplante de pulmão. Ela recebeu o diagnóstico de hipertensão arterial pulmonar em 2016, doença genética e progressiva que também acometeu a irmã dela, que faleceu aos 25 anos, e uma prima, que também não resistiu. 

Durante o tratamento em São Paulo, ela foi encaminhada para a equipe de transplante e na sequência foi incluída na fila de espera. A notícia que mudou a sua vida chegou em dezembro de 2019, quando ela foi operada. “Falar sobre doação de órgãos, não é falar sobre morte. É segunda chance, é vida. Só estou aqui hoje porque uma família, no momento mais doloroso, teve amor ao próximo. Sem isso, eu não estaria aqui hoje. A doação é o maior ato de amor”, conclui.

Cindy Santos e Aline Andrade