As duas mortes de trabalhadores de Apucarana, nesta semana – uma na sede do município outra em Pitanga -, revelam um quadro preocupante. Em todo o ano passado, por exemplo, a cidade registrou cinco mortes em acidentes de trabalho, segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com base nas informações do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). E 2021 foi o pior ano da série histórica desde 2002, também com 5 mortes. Não houve registro de óbitos, na cidade, por exemplo, em 2019 e em 2020. O número total de acidentes de trabalho também preocupa. No ano passado, foram registradas 430 comunicações de acidentes do trabalho (CAT), número 13,7% maior que em 2020, com 378 casos notificados. Só em benefícios pagos pelo INSS, os acidentes de trabalho custaram quase R$ 15 milhões ano passado no município.
Os dados do Observatório, disponíveis na plataforma SmartLab, colocam Apucarana como a 19ª cidade com maior número de registros de acidentes de trabalho, numa lista de 399 cidades do Estado.
O aumento nas notificações locais, entretanto, é menor que a média nacional, que foi de 30% no comparativo entre 2020 e 2021. Conforme os dados do Observatório e do Ministério Público do Trabalho (MPT), o país registrou 2,5 mil óbitos e 571,8 mil Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs) em 2021.
Já no Paraná, 41,4 mil trabalhadores se acidentaram durante as jornadas e 224 morreram.
O pior ano da série histórica em volume de acidentes do trabalho, em Apucarana, foi em 2014, com 1.208 comunicações formalizadas.
Além da dimensão da saúde e qualidade de vida do trabalhador, os acidentes geram impactos significativos aos cofres públicos nas áreas de saúde e seguridade social.
Considerando os dados oficiais do INSS, as despesas do órgão decorrentes de auxílio doença foram de R$ 13,2 milhões no ano passado no município, dos quais, R$ 2,4 milhões por conta de acidentes de trabalho. Isso coloca a cidade em oitavo lugar no ranking estadual e na 135ª posição no ranking nacional. Somando a esse número os pagamentos por aposentadorias por invalidez, pensões por morte e auxílio acidente, a conta de gastos exclusivos com acidentes de trabalho fechou em R$ 14,9 milhões no município ano passado (ver infográfico).
‘É preciso investir em treinamento’, diz especialista
A entrega dos equipamentos de proteção individuais (EPIs) não é ação suficiente e capaz de garantir a segurança no trabalho. O alerta é do especialista Kurt Adam, de Apucarana, engenheiro de segurança do trabalho e ex-coordenador do curso específico ofertado pelo Senai.
“O investimento da empresa em segurança não pode ser apenas no EPI. É preciso investir em treinamento dos funcionários e na melhoria de processos e ambientes para se reduzir os riscos de acidente”, ensina. E, didaticamente, dá exemplo: “Se tem um funcionário que vai trabalhar em atividades em alturas, não vai bastar apenas ir até a loja e comprar cinto de segurança e dar para ele usar. Ele precisará ser treinado para saber como usar o cinto, vai ter que saber ancorar as amarrações e como construir uma linha de vida. Sem esse treinamento, aumenta o risco desse trabalhador se acidentar, mesmo usando o cinto de segurança”, conjectura.
Em linhas gerais, Kurt Adam diz que os acidentes de trabalho normalmente decorrem de três situações, isoladas ou combinadas: imperícia, imprudência, negligência. Para ele, 90% dos casos ocorrem causa do fator humano, seja do próprio trabalhador ou dos gestores deles nas empresas. Apenas 6% dos acidentes de trabalho tem a causa principal no fator ambiental, por exemplo, neblina na estrada. E só 4% dos casos de acidentes tem a causa principal na falha mecânica em máquinas e equipamentos.
“Se a empresa investir no empregado, no fator humano, o risco de acidentes vai diminuir”, diz o engenheiro. E a recíproca é inversamente proporcional, adverte. Se não houver investimento nas pessoas, o risco de acidentes aumenta e aí sim, o lucro do negócio estará ameaçado.