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Máquinas de escrever resistem ao tempo e à revolução digital

Fernando Klein

| Edição de 19 de julho de 2022 | Atualizado em 19 de julho de 2022
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Na era dos modernos smartphones, tablets e computadores, as máquinas de escrever parecem coisa de museu. Com a velocidade dos avanços tecnológicos, não deixam de ser. No entanto, esses velhos instrumentos mecânicos para publicação de documentos, relatórios e outras informações resistem ao tempo. Apucarana ainda conta com uma loja especializada no conserto desses “dinossauros”. 

Com quase 50 anos no mercado, a Somaq Máquinas em Apucarana atende saudosistas e também pessoas que ainda utilizam as máquinas de datilografia profissionalmente. Vagner Novo Soares, filho do proprietário e um dos pioneiros na área na cidade, Alexandre Soares, conta que o número de consertos varia muito. “Neste mês, recebemos quatro máquinas de escrever”, comenta, mostrando no balcão uma máquina arrumada. “Esse cliente, por exemplo, traz todos os anos a máquina dele para fazer manutenção”, emenda. 

Segundo ele, muitas pessoas procuram a loja para arrumar o equipamento que tem casa como forma de recordação. No entanto, há escritórios e cartórios que ainda utilizam as máquinas na rotina do trabalho. Em relação à matéria-prima, Vagner comenta que o número de fornecedores está escasseando, mas ainda é possível encontrar determinadas máquinas. “Ainda há indústrias que fabricam fitas, mas alguns modelos não têm mais fabricação e a gente não consegue mais arrumar”.

Ele assinala que a loja gera curiosidade por conta das “antiguidades”. “Muitas crianças param com os pais aqui e a gente ouve as perguntas delas sobre as máquinas, querendo saber o que é e como funciona”, assinala Vagner. A empresa, no entanto, precisou se atualizar para ficar no mercado e hoje atua fortemente no setor de automação comercial, com impressoras fiscais, etc.

Atuando há 31 anos na Somaq, o funcionário Elton Pires da Silva não esconde o saudosismo. “Quando entrei aqui não existiam computadores. Comecei lavando máquinas até aprender a consertar depois. A gente arrumava qualquer tipo, elétrica ou manual. Nós atendíamos prefeituras, bancos, empresas... Viajávamos a semana inteira para fazer manutenção e quando chegávamos de volta ainda tinha muita máquina para consertar”. 

Ele lembra de algumas marcas. Uma das melhores, segundo ele, era a Olivetti Linea 98. “A Facit também era muito boa”, acrescenta. Quando chegaram as máquinas elétricas, a “novidade” assustou no primeiro momento. “Era uma inovação na época”, lembra. 

O cartorário José Riva Filho, do Distrito do Pirapó, em Apucarana, não abre mão da sua máquina de escrever. Para ele, esses equipamentos ainda têm sua serventia. Desde 1970 no setor – no Pirapó a partir de 1988 -, ele usa as máquinas para preencher cartões de assinatura e capas de documentos (escrituras). “A gráfica faz a capa e deixa as lacunas que a gente preenche com as máquinas”, diz. 

Ele tem três modelos: Olivetti Linea 98, Facit e Triumph. “Não penso em parar de usar, não. Ainda serve para o que eu preciso”, diz. O cartorário comenta que tem de ensinar os funcionários mais jovens a usar as máquinas. “Eles estranham, mas aprendem rapidinho”, finaliza. (FERNANDO KLEIN)