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Medicina com sotaque latino

Fernanda Neme

| Edição de 08 de dezembro de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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A população que frequenta a Unidade Básica de Saúde Petrópolis, de Arapongas, já se acostumou com o sotaque do médico mexicano Victor Manuel Caldeira López, 33 anos. Nascido em Sacatecas, ele veio morar e trabalhar no Brasil há 4 anos junto da esposa, que também é médica, a equatoriana Andreia López.

Imagem ilustrativa da imagem Medicina com sotaque latino


A enfermeira-chefe da unidade, Vera Lúcia Samesima, conta que o médico ganhou popularidade entre seus pacientes pela atenção dispensada para a população. “O doutor Victor é muito popular aqui no bairro. As pessoas gostam muito do trabalho e da pessoa dele. Ele faz um trabalho brilhante de prevenção de doenças. Ele faz mais de 500 atendimentos por mês aqui na unidade”, acrescenta a enfermeira. 
Durante o período em que atua em Arapongas, o mexicano criou alguns grupos como o de combate ao tabagismo, da saúde do homem e da mulher, que incentivam a prevenção de doenças como o câncer de próstata e de mama, e também de acompanhamento de gestantes, em que ele acompanha a futura a mãe do início ao fim da gravidez. “Temos mais de 70 homens no grupo e a gente sabe o quanto é difícil a ala masculina aderir à algum projeto da área da saúde. Fico grato por esse retorno”, diz o médico. 
Victor se formou em Medicina em sua cidade natal e a residência na Medicina da Família, na Venezuela. Além disso, passou por intercâmbios em Cuba e trabalhou como médico voluntário no Haiti. “Quando surgiu o programa Mais Médicos, no Brasil, eu e minha esposa resolvemos vir para cá e logo ela engravidou do nosso primeiro filho. Viemos para Arapongas sem conhecer nada”, recorda. 
O casal agora tem dois filhos nascidos na cidade, Victor Samuel, 4 anos, e Victor Gael, 45 dias. “Criei um vínculo muito grande com Arapongas. Não penso em ir embora”, explica o médico.
Por não falar português quando chegou ao Brasil, Victor disse que não foram fáceis os primeiros meses. Porém, logo foi se adaptando. “Os pacientes chegavam e levavam susto em ouvir o sotaque espanhol, mas depois a gente começou a se entender. Acho que quando eles entram aqui eu escuto os problemas deles e tento arrumar soluções. Na maioria das vezes, os médicos passam apenas remédios e não ajudam a encontrar soluções”, analisa.
Com a chegada do novo governo e a situação envolvendo os profissionais cubanos, que deixaram o país, Victor ficou apreensivo com sua estadia no Brasil. No entanto, ele pretende tirar em breve a carteira do Conselho Regional de Medicina (CRM) e ficar em Arapongas com a família. “Há tantos anos trabalhando com a medicina, é difícil ter que provar que sou mesmo médico”, lamenta. 
O secretário de Saúde de Arapongas, Moacir Paludetto, elogia o trabalho desenvolvido pelos médicos de língua espanhola no município. Atualmente são quatro profissionais estrangeiros da Venezuela, Equador e México. Um profissional cubano 
Segundo ele, os profissionais latino-americanos têm um perfil diferente dos brasileiros no atendimento à população. "Eles atuam fortemente na comunidade, com maior acolhimento dos pacientes. O diagnóstico é feito mais na base da conversa. Os médicos latino-americanos não são tão dependentes de exames como os brasileiros. Essa postura agrada os pacientes, que querem justamente serem ouvidos pelos médicos", assinala. 

Venezuelano trouxe família
O médico venezuelano José Vicente Galez, 31 anos, chegou há 4 anos em Arapongas na companhia da esposa, a médica Indira Galez. O casal veio para o Brasil participar do programa Mais Médicos e trouxe a família toda para a Cidade dos Pássaros. “Gostamos muito de morar aqui. Meus sogros e meus cunhados estão aqui também e pretendemos formar uma família por aqui”, conta o médico que trabalha na Unidade Básica de Saúde do Conjunto Águias. 
Quando o médico começou a trabalhar, ele conta que não foi nada fácil a comunicação com os pacientes. “Eu não entendia o que eles falavam e eles não me entendiam o que eu dizia. Depois foi ficando tudo mais tranquilo”, recorda. Um dos seus primeiros trabalhos foram em um posto de saúde no distrito de Aricanduva. No local, o médico conta que foi muito bem recebido. “Até chorei quando fui para outra unidade em Arapongas. Os moradores da região moravam em sítios e sempre me presenteavam com galinhas. Um dia ganhei até um boi”, recorda o médico. 
O venezuelano não pretende ir embora de Arapongas. “Estou investindo em um lava-jato e uma clínica particular para trabalhar com minha esposa. Arapongas é uma cidade muito boa para viver”, conta.