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Modelo procura polícia após divulgação de fotos íntimas

Fernanda Neme

| Edição de 28 de abril de 2018 | Atualizado em 25 de janeiro de 2022

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“Podia ser com você, com sua filha, com sua irmã, com sua amiga. Dessa vez foi comigo”. Com essa reflexão e esse alerta que a atriz e modelo Sharmila Chambó, 26 anos, de Apucarana, se manifestou em uma espécie de carta aberta enviada a amigos e durante a entrevista exclusiva que concedeu ontem para Tribuna. Desde o último domingo, quando fotos e um vídeo íntimo começaram a circular nas redes sociais, a vida da modelo virou de cabeça para baixo. 

Imagem ilustrativa da imagem Modelo procura polícia após divulgação de fotos íntimas

Sharmila foi vítima de uma modalidade de violência contra mulher que se tornou tão comum que foi necessário criar uma lei para tipificar o comportamento de vingança virtual. Quem vazou as imagens foi um homem com quem ela iniciou um relacionamento em dezembro de 2017. A relação, entretanto, rapidamente se tornou abusiva e marcada por chantagens. A modelo ficou sabendo do vazamento na madrugada do último domingo, após receber a ligação de uma amiga do Rio de Janeiro, onde está vivendo e trabalhando como atriz e modelo. As imagens foram encaminhadas inicialmente para um grupo de WhatsApp de trabalho da modelo, chegando a vários dos seus clientes. 
Com acesso às redes sociais particulares da atriz, o antigo relacionamento chegou a divulgar as imagens em sua página. “Minha primeira reação foi excluir as imagens. Contudo, fiquei com medo de que ele não parasse e voltasse a publicá-las, por isso, num primeiro momento, tirei todas as minhas redes sociais do ar”, explica. 
Sharmila conta que antes do vazamento, viveu meses sob medo e chantagem. O vídeo gravado sem a sua autorização, virou trunfo nas mãos do antigo relacionamento. “Para que ele não divulgasse tais imagens, me submeti a tudo que ele pedia. Estou arrependida”, conta. 
No primeiro momento, sob o choque da repercussão da exposição de sua intimidade, a apucaranense diz que teve dificuldade em reagir. “Quis desaparecer, não podia acreditar que isso estava acontecendo comigo, até porque me submeti há meses de chantagem para evitar que tais imagens viessem à tona. Me senti invadida, violada, exposta, insegura e tudo mais que possam imaginar”, explica. 
Após conversar com seus advogados, Sharmila resolveu levar o caso para Justiça e compareceu à Delegacia da Mulher para registrar um Boletim de Ocorrência contra o autor dos fatos. “Ele responderá por diversos crimes enquadrado na Lei Carolina Dickman e na Lei Maria da Penha, as quais estão aí para proteger pessoas que são vítimas desses tipos de crimes e relacionamentos abusivos, assim como eu”, explica a modelo, que está sendo orientada pela Zanoni, Teixeira & Franco Advogados. 
Antes da divulgação das imagens, Sharmila conta que conversou com o autor dos fatos. “Conversei, não só durante toda a madrugada em que ocorreu a divulgação não autorizada das imagens como também na sequência. Na madrugada do dia 21 para 22 de abril eu estava em contato direto com ele pelo celular, tentando evitar que ele as divulgasse. Na verdade, como disse, tento evitar isso desde final de janeiro, período que começaram as chantagens”, reforça. 
Após a divulgação das imagens, o antigo relacionamento entrou em contato com a apucaranense e com os pais dela, e chegou a pedir perdão. “O que motivou de fato, apenas ele pode responder. Porém, não vejo outra razão que não seja o fato de não aceitar que eu não queria mais me relacionar com ele. Penso que não só homens, mas qualquer pessoa que expõe um ser humano dessa forma, com o simples fim de humilhar, deve responder judicialmente por suas atitudes”, ressalta. 
Segundo a apucaranense, ainda é difícil analisar quais os reflexos do está vivendo agora vai acarretar na em sua profissão. “No primeiro momento minha preocupação está sendo minha família. Mas sem dúvidas, não sei se algum dia conseguirei desvincular minha imagem profissional das imagens divulgadas e isso, além de causar um mal-estar, poderá acarretar na perda de vários contratos”, lamenta. 

Mensagens de apoio e conforto
Sharmila conta que vem recebendo muitas mensagens de apoio, de conforto, de compreensão. “Não tenho como agradecer cada um que me estendeu o ombro nessa semana tão difícil. Comentários ofensivos também sempre têm, algumas pessoas julgam sem conseguir se colocar no lugar do outro, acham que não devia ter mandado, que fui ingênua, ou que isso não aconteceria jamais na família delas. Mas eu também achava que isso jamais aconteceria comigo, só quem viveu algo parecido para saber e julgar”, explica. 
Para a modelo, sua história pode servir de exemplo para outras pessoas. “Acredito que posso servir de exemplo para que todas as pessoas que, assim como eu, se submeteram a relacionamentos abusivos, possam enxergar que existe uma luz no fim do túnel, que não devemos abaixar a cabeça, nos permitir fazer coisas contra nossa vontade. Precisamos enxergar que somos vítimas e que essas atitudes são crimes, inclusive, têm leis próprias”, acrescenta. 
Além disso, a apucaranense destaca o apoio que tem recebido da família, principalmente dos pais, Alans Faissal e Tania Chambó. “Graças a Deus, meus amigos e família estão me dando todo o suporte necessário para que eu consiga aos poucos retomar as minhas atividades. Mas confesso que não é fácil, mesmo sendo vítima, não consigo não me sentir envergonhada e com medo de sair de casa”, comenta. 
A delegada da Mulher, Luana Lopes, afirma que só vai se manifestar sobre o caso após ouvir formalmente o noticiado, o que deve ocorrer na semana que vem.